§01
sou
tardio como esse vento
segado
nas folhas do outono
e não me
oprime o desapego
nem nos
silêncios de durar;
sou
cinzento como as nuvens
que
cobrem o olhar distante
quando
amanhece ao meio dia
uma manhã
sem se encontrar;
sou chuva
nos canais da lua
pegadas
submersas no deserto
rio pelas
cavernas do subsolo;
a poeira
é meu chão no voo
nas teias
do tempo que teço
a vida atada em desconsolo...
§02
sou
contingente e inconcluso
num
quadro que é todo metade
sou na
quietude de claustros
esse
silêncio que petrificou;
não sou a
imagem do espelho
anterior
aos tempos adiados
sou o
reflexo a esgueirar-se
de um
exilado que não voltou;
mais
vezes do que me propus
e outras
sem nenhuma escolha
fui às
fronteiras da deserção;
sou o
barco deixado à praia
um
náufrago do próprio olvido
a contar
ondas que vem e vão...
§03
sou um grito
que o vento leva
de
palavras postas aos muros
sou uma
chave que não fecha
nessa
porta a ranger sem fim;
sou o que
dizem a meia boca
de
ambiguidade, de incertezas
essa asa
que sequer alça voo
conclui
sua trajetória em mim;
sou a
argila que enferruja
sob a
ação do lodo e dos dias
e depois,
uma memória largada;
possa um
anjo colher-me o pó
do que em
brasa e gelo ardia
e juntar
aos arquivos do nada...
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