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Mostrando postagens de 2015

PASSAGEM

Isadora Duncan o próximo degrau que seja para o sol nem saturno ou plutão vênus ou marte tampouco mercúrio mercador e ladrão quero Apolo sonhador gênio puro arte, e venha ainda Dionísio, o pai do vinho a taça a verter encanto, alumbramento pois o sonhar é ir-se além do humano reconstruir o paraíso de cada momento, dance a alma o pleno gesto do coração dance a nuvem o mar a montanha céu seja o universo o palco da humanidade numa nova terra onde escorre leite e mel.

REFLEXÃO

ainda vou viver muitas vidas sem que possa me entender com esse mistério que flutua, como se mar nem houvesse ou o que se tinha por mares Amandine Van Ray - meiaseis.com fosse somente a palavra nua, queria deter o que soubesse daquilo que se chama tempo sem que disso haja o sentido,                                          pois o que há é luz, e escuro num mundo de cor e sombras em que sempre andei perdido, é ainda o mistério que marca com ferro em brasa e sangue a asa mutilada que me tatua, não há voos nem sobre o mar nem a sobre a lua devastada: - viver abisma na palavra nua...

TRÂNSITO

na carne terrosa da alma: - mundos e sementes e nos meus dedos desliza a água dos tempos, leio a efemeridade do sol que arde na veia nesse sangue de persistir oceanos a pulsar, Simon Siwak - meiaseis.com me infiltro na constância de amoldar sonhos mesmo que não detenha elementos, alquimias,                                  nebulosa de domar a dor passageiro de durar ultrapasso nuvens de ver e razões a supor, me arvora é desse sentir o eco no absconso a repetir-se entre átomos o trânsito incompleto, sem deter nem a certeza ou o efeito da soma senão, unido à incógnita partir sem eternidade...

MEMENTO MORI

sei desse homem antigo envolto em ferro e vidro que trafega pelas praças e crê da filosofia ao vazio, homem que desconhece de testamento ou destino mas, segue determinado entre o ignoto e o abismo, Anja Bührer - meiaseis.com sei desse homem as luas desertos, o caos domado nas doses de aguardente à beira da noite sem fim, e sonhos postos ao largo sem rastros de esperança nos recessos que sangram onde sutura não estanca,                                                  parado defronte à janela revê mundos, desencantos embora a sempre epifania assegure horizontes de luz, é certo que a humanidade em seu caráter mais puro salve ainda algum motivo que justifique viver e lutar, contudo, sua alma chora na frialdade da impotência sem que detenha o sentido que se dilui pela amplidão.

NOITE

dizia-se de uma noite que invadia o mundo Anja Bührer - meiaseis.com e mergulhava nuvens no olhar dos homens, de uma escuridão tal que as próprias trevas recolhiam-se caladas em desertos de vidro,                                             uma sombra em ferros numa manhã cinzenta uma mortalha de ecos sobre leitos de insônia, e no enregelar da alma no arrefecer da busca no desencanto da flor… quedava-se imensidão.

URGÊNCIA

daquelas palavras ouviam-se corais e intumescências, labirintos aquáticos, transparências   de antes da evolução, Sarah Treanor - meiaseis.com naquelas palavras rastros dos seres sem genoma traduzível, e as umidades das eras feito poeira a pulsar contrafação,                                  eram palavras selvagens como a ira dos fogaréus míticos, a desafiar a longevidade dos ermos e o silêncio dos vulcões, eram palavras como garras de leoas a dilacerar temporais… cujo significado urgia  da premência  que já não sei mais.

CONTRASTES

era forçosamente uma tarde como as outras inserida em seu instante nulo e insignificante, como o esvoaçar de uma asa moldada em pedra ou o espaço sem profundeza de um mar represado, Ambrits Tamás - meiaseis.com e mediam-se os cartesianos das esquinas as fosforescências do infinito o gradiente da rosa,                                                       a tragédia da dançarina nua a música das pedras todo ritmo em sua sincronia o ressoar das horas, as umidades dos batráquios a coaxar o nada a desmistificação dos signos e o elixir da vida, no mais fundo de si mesmo um grito humano extraído da superficialidade é o que destoa de tudo.

RECEITA

prepara das sementes do orvalho mais puro e da noite mais doída as páginas da alvorada, tira da garganta o nó e do vazio, as embolias semeia pelos campos o alimento e os sonhos, liberta tudo da alma pelas doces alquimias recolhidas nas ondas além do fim das horas, Nicolas Bruno - meiaseis.com recolhe as mil gotas da chuva evaporada do seu último pranto e dos dias esquecidos                                   e das palavras inúteis dos cadernos secretos das mágoas em cinzas entalha outro mármore, revive das parábolas a seiva da promessa lembra à humanidade essa palavra sem dono, dispõem pelo infinito todas as substâncias aquelas da sua alma e essas dos universos, as químicas de existir sem pressupor limites e a liberdade de navegar sem repartir territórios...

FALLEN ANGEL

como ruído no corredor da casa a chama cambiante de uma vela Joyce Tenneson - meiaseis.com ou uma janela entreaberta no ar,    como a música abafada ao longe o aceno de uma mão na estrada e esse pássaro indefinido a voar como ondas perdidas no deserto um sussurro que traz a ventania e essa ausência fixa no espelho, como uma sede que nada sacia como o beijo de um anjo perdido numa boca a sorrir em vermelho…

DURA LEX

um espaço, uma vírgula, um ponto lá se foi uma ideia deambular o não sentido na ação de pôr-se claro um conceito inútil um espaço, uma vírgula, um ponto; Lee Jeffries - meiaseis.com quanto esforço para dizer o indizível, quanta azáfama, quanta falta do que fazer a torneira da pia precisa de conserto há lixo nos escaninhos inconfessáveis do sexo poeira na alma, secreções a serem limpas; um espaço, uma vírgula, um ponto o teclado inteiro grita, os móveis, os quadros é necessário irrigar as gavetas estéreis ser cúmplice dos grifos que riem na praça; medir a órbita de Vênus, pichar os muros exorcizar fantasmas, cometer avarias acender velas ao diabo, lutar com deus sufocar na fumaça, abrir os veios dos rios… ...revirar a vida nessa teimosia de sonhar.

DISFARCE

o rosto feito em retalhos aqui amoldo em silêncios e argilas de esculpir vida, uma parte fluida absorve essas ranhuras do tempo e a outra, tudo consolida; Man Ray molde pronto e está livre toda a imagem formada        mas falha o seu conteúdo,         que essa máscara brilha como adversa à verdade e reflete o avesso de tudo; refaço a face do simulacro para reiniciar a escultura dos restos de fragmentos, mas é da mesma imagem que retiro dentro de mim a sombra que me invento...

ESTIMATIVAS

a tentativa de por ordem às coisas e ser inteligível quantas vezes desligo o interruptor da lâmpada? quantas vezes examino se a porta está fechada? Olga Zavershinskaya - meiaseis.com ouço em mim silêncios obliterados a insipidez das coisas o vazio de uma lentidão a escorrer como a lesma que carregasse todos os conflitos e eras do planeta, enquanto isso, os sábios desfiam fórmulas cifradas das químicas pouco nobres, da lei dos fluidos humanos quando é necessário que os olhos vejam o que não se vê...

ACALANTO

me dei conta de certos apegos a trançar luz pela casa enfeitada cores vestidas de gestos largos e asas de atravessar os mundos, Man Ray - www.culturalinquieta.com me dei conta da presença baça sem realce, de uma lembrança quase etérea, se não fosse menos menos que uma estrela avariada, estrela que saiu da rota, e caiu anjo desmemoriado na fenda nua            da terra desolada, homens ocos sedentos do vinho feito de eterno, "me dá um gole da sua boca doce deste mel de embriagar o medo  existir fora da tela desse retrato e criar um mundo paralelo ao sul" não há ninguém na rua – espero, talvez em outra vida, quem dera o que me dói agora é sem nome... e perto de adormecer sem sonhar.

ÁGUAS

Toni Frissell  - fotógrafa EUA  www.culturainquieta.com olhos fogueira líquida a aquecer palavras em silêncio, lágrimas rio sem voz a diluir palavras que se foram, oceano dimensão do imenso cujas ondas calam as palavras.

COMPANHEIRA

Joseph Loughborough - meiaseis.com a poesia cuida das minha feridas me traz vestes limpas e calça sandálias em meus pés me restitui ao caminho perdido, a palavra, no entanto, me embrutece me faz perdulário e bêbado entra comigo nos bordéis da lua onde nos consumimos sem paixão,                                                 oferece seu sexo, grita meu nome tão-só para acender meu calafrio são aziagos seus beijos lascivos interrompidos na soleira do cadafalso, me enregela o sangue, turva o sonho nos becos em que a luz é mendiga onde trafego esse meu desencanto um pouco cansado, um tanto absorto, - jamais sozinho...

DESEJO

qualquer coisa passa mas o desejo fica, e fica onde não se percebe nem seiva nem sopro, fica como uma névoa de um outono indefinido na sala onde se rezam as exéquias de sonhar, e sangra na corrosão de cerzir o tecido velho num revês de esquecer o que não foi bordado, by James Houston mas permanece ali e será o mesmo desejo a queimar em geleiras olhos vidrados na luz, a suspirar sua ânsia nos cubículos de sentir sem se haver de palavra para exprimir um grito, mudo se contorce nas valas dos penedos onde sobre a pedra nua quedam luas, calafrios e a aridez do mundo o naufrágio dos tempos uma jornada sem rumo desde o porto sem mar.

SINAIS

que sombra desce pelas janelas de vidro na chuva a queimar corações e desertos? tenho asas de olhar Oriol Jolonch - meiaseis.com além do estabelecido desse determinismo que a tudo devora? e dessa mornidão a esterilizar sonhos nos é possível fugir? quantos ainda creem?                                             enfrentar dragões plantar trigais na lua beber desse vinho macerado na vida... nada do que faça me tornaria outro dos que agora vejo a esperar um sinal, enquanto se celebra em templos de névoa o cerimonial vazio das nossas dúvidas.