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Mostrando postagens de julho, 2016

OÁSIS

é preciso escrever esse ato inútil, sem fruto como esfolar a pele e tirasse de dentro o que se teme surgir, é preciso rezar os montes enfileirados cordilheiras sem fim enquanto se bebe os rios de silêncios se esvaindo, que as histórias estão presas na garganta nós que nos afligem fardos que levamos mal entramos na vida, e se faz necessário contar isso que dói para que a dor repouse seus olhos desertos na sombra da poesia...

MISTÉRIO

é chegada a hora e todos a supõem completa, em dias tempos, e razões, embora a chuva nem tenha caído e nem a lua polido seu ventre de luz, - para que olhos se não vemos lá esse além de nós que jamais está? para que existir - grito às pedras, tardias de saber - se não ousamos? e diz-se de mares e terras e nuvens onde se entornam deleites à fartura, e diz-se de céus cujos astros guiam os anjos perdidos que não sonhamos...

ORVALHO

e se derretessem as águas dos meus olhos e me pegasse ao mar, se em líquidos coloridos me desintegrasse em mundos a orvalhar, se em chuva, a alma penetrasse os impossíveis ainda não descobertos, e rios fizesse correr furiosos livres e repentinos pelos astros encobertos, então cachoeiras fizessem por irrigar os céus e terras tão ressequidas, e pelas névoas pousasse úmida, nos ermos a seiva de florescer a vida...

CICLO

estava ali, a lagarta como nem sequer fosse ou sequer fizesse parte das coisas de existir, a lagarta patética em seu frêmito mesmo despercebida de tudo desde títulos à castas, presa de sua fome como eu, aprisionado nessa busca de enxergar onde não me alcanço, na fúria de alimentar o inexprimível de suprir vazios que se concluem na voragem dos ciclos, a lagarta, o impulso como voar é partícula da propriedade mesma a compor o pássaro, o homem, a travessia como viver é seguir desde essa reinvenção de muitas paisagens, e o que fica depois? para a lagarta - o sono de aquietar o desejo e se tornar a cor viva, até que possamos no acordar dos sonhos tecer a veste que dispa a nossa humanidade...

INSIGHT

me despe no meu avesso me destrava das algemas me alumia no meu escuro me leva à nascente do rio, e ensina o que não se vê por caminhos que não sei das estradas que esqueci pelo pacto de não lembrar, então, quer a lua acenda quer os mundos dissipem quer as leis me silenciem enfim me deixe entender, que nada se faz decisivo que sonhar não é o atalho nessa estrada imperfeita de continuar, e de resistir, e o que quer que se viva no retiro de ousar-se crer é parte a completar o todo que se funde, ao irromper...

SE FOSSE POETA

ah se fosse poeta e arrancasse das pedras as histórias que não sei e colhesse das nuvens a seiva de um azeite que curasse o pranto, ah se fosse poeta e soubesse, sem cálculo a desmedida das coisas e forjasse em fogos uma espada sem corte que aplacasse a dor, ah se fosse poeta e entendesse o simples de desentender o jeito e as porosas escamas de saltar rio sem fim de o tempo existir, ah se fosse poeta e fizesse arder a chama de viver a eternidade nessa faísca de luar e estrela e risos e luz que exaurem o amor, ah se fosse poeta e soubesse o que diz o silêncio da alvorada quando a luz crispa pela escuridão afora no limiar de se romper, ah se fosse poeta e sem mais necessitar do crocitar da palavra apenas calasse da alma isso que à ânsia golpeia sem ter ferido sequer...