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Mostrando postagens de 2014

RITO

essa sede que me bebe além da sede que tenho e água nenhuma mitiga, a obscuridade de existir sem cuidar que verdade liberte mais do que diga, esse sonho que me fere mas que aquece o calor de me alcançar humano, a esperança que retorna passos largos na aurora de esperar um novo ano!

CIRCUS MAXIMUS

Allez, allez – era o palhaço triste com aquele sotaque engraçado, enquanto o mormaço da tarde recolhia-se na asa do crepúsculo; Nua, a bailarina dança no céu em seu trapézio quase invisível, animais terrestres e aquáticos tocam uma música selvagem num hipnótico cenário em P&B; I’m sorry, ladies and gentlemen but there is no heaven’s stars here, I lost my name e and I’m so sad, (e tudo segue fora do roteiro...) Deixa o vento cantar na lona gemidos de borboletas sufocadas Magrite, Miró, Salvador Dali... voar a transcendência humana é tão breve no sopro do tempo; Porque aqueles anjos choram se não lhes é negado o paraíso? - Acorda, refém da poesia, é sonho o que faz nascer o artista...

TEOREMA

são tantos os delírios - as luas nuvens pesadas de sons afora cantam na chuva dos silêncios fisgados pelos olhos de querer; entre pensamentos de sombra quadros esquecidos na parede as janelas olham as distâncias que, num sonho - penso ouvir;                                         as palavras voam sem direção querem-se revelar no teorema mas se perdem no não sentido, o que me cala é mais que tudo; a porta se abre para o labirinto o sol nasce outra vez inflexível o ciclo recomeça na correnteza do tempo, que flui sem resistir.

ROTA

invento manhãs de aguardar o sol irromper à plena luz, na curva traço tempo que afunda em promessa de mar, certeza é não ir conjurar passagens antes de ser caminho, existir de verdade é não ter as medidas em que se deva perder.

TORMENTA EM BLUE’S

sob dezembros de não mudar, de um céu azul cobalto, extraí ideias de não existir certezas, e assim – desarrumo esse dia numa espécie de desencanto entre o humano, e transitório, o filósofo tem razão, em dizer de sermos todos condenados à prisão extensa da liberdade, mas nem o fato de saber isso do como é decisivo esse peso, impede a alma de se escutar, e no antes que tudo houvesse, a tormenta nos ergue as asas mal supostas do sonho perdido.

PORQUÊS

Porque tempo jamais cansa e rio, determinado, escorre, sem se dar conta qual vento desfibra as poucas certezas, Porque sonho não se define e vida se abala nem sentida, mas há o pretexto de existir embora tudo siga provisório, Porque as perguntas saltam pelos cantos da sala, no teto, a voar com as bocas abertas um mar vazio entre os olhos, Porque nu o silêncio evapora imerso no oceano sem ondas a girar como um eco distante, espectro de vidro estilhaçado...

VÍNCULO

as danças e o mar se foram ficou esse olhar sem acenos entre relâmpagos, e móveis a pastar as horas de silêncio, os anjos e a palavra vieram com sua música de esperas revirar a casa e varrer o dia enquanto se acende a noite, e o olhar se espanta em lua as asas germinam na janela, como seguir dentro da alma rumos, sem ouvir fronteiras? montanhas declinam o céu à proximidade do intangível, do nada que me transbordo  retorno à trilha das estrelas.

DECRETO

preciso da vida para matar o tempo e durar o sonho meu ópio é mergulhar ladeira abaixo em quem sou, sou meio passarinho - asa quebrada no vendaval da lua meio vagabundo, só o vento me leva onde não vou, nasci com essa cegueira de enxergar os contrários cavo garimpos de buscar claridades no escuro, sou livre, por um decreto confirmado nas estrelas de ir além do desencontro me perder no que procuro.

VASO PARTIDO

meu coração é vaso partido onde os girassóis se foram guardo certas nuances aqui intrusas - de se reconhecer, é certo que o dia recomece embora desigual de notícias há flores de olhar sem ouvir e espelhos de voar sem ver, não sei a resposta, se houve dentro, o que existe é busca o espaço inteiro da ausência carrego pelos dias, sem fim, meu coração vaso quebrado a pulsar uma outra inteireza sabe quanto é frágil guardar tudo o que não ficou de mim.

BELEZA

me dispo na bruma o verbo na clareira oculto a sombra provisório, navego o eterno, nos mares agito os penedos das cercanias a me revolver é que cavalgo a fera, o medo, no corpo estilhacei a palavra canto, da poeira aos montes finjo o labirinto que me cava, sigo a trilha que se esconde beleza, é esse voar sem asas numa dor sem saber de onde.

CINZEL

me falha a inspiração apelo ao meu silêncio de séculos, guardado sob a poeira de durar, por fugir das palavras é que sei andar na cor do gosto e na ternura das paisagens da vida, se algum poema grita outros não saem fora mas se olho de frente ocultam tudo que sou, passageiro do inverso ganho parte de existir a inventar uns modos de refletir - asperezas.

NASCEDOURO

todo verso é substrato como resíduo da alma buraco aberto na vala de subtrair o anverso, e o verso indetermina mal se sabe o começo quando sei o que digo num instante esqueço, que o verso é um risco uma espécie de perigo um mergulho enquanto - observa-se o umbigo, pois um verso é senão tangência, ângulo reto grito aceso de silêncios gestação antes do feto, mas o verso não recua gane, na hora de parir depois vai, porta afora quando a saída é não ir.

ALÉM

esquadrinhei de lanterna em punho a minha alma de labirintos reclusos, até onde vou a paisagem esqueço até onde sei o espaço me devora, esfinge de lua mistérios do sempre da inquietação da noite sem estrela, o cicio do vento e cânticos de esperar polifonias de raios na culminância do ser, esse decifra-me é espelho que me fita só há resposta onde além é miragem.

INVASÃO

Entendi que os olhos trazem rompantes de não ver, para ir ao por dentro que se esconde em labirintos, Desentendi o mundo e suas panaceias do absurdo, do quanto não saiba de tudo, sei menos disso que sinto.

DESVOAR

minha casa é sopro de ventos a vela de um barco sou flecha de seguir partida antes de pender-se o arco se um dia desperto e me fustigam  franjas num sol azul                 reinvento um norte pois - certezas -  desencontro ao sul o que for da beleza é preclaro do ser revolvido em feridas não há levezas no ar sem pesar a dor nas asas - na vida...

A FOME

quando as palavras fogem feito asas de pedra líquida em rios que não se movem, qualquer oceano é escasso para conter quanto não há de que preencher o espaço, qualquer espaço é pequeno e o imenso exprime o nada do quanto ainda não vemos,                                               entanto, tudo é vislumbrar de tempos, caminhos, e pó em travessias sem retornar, mar de pedra esculpida flor na imobilidade de florescer do chão de aprisionar a dor, desenlaço silêncio profundo, enquanto mastigo palavras - a fome - é devorar o mundo.

VIGÍLIA

Escrever dói mas não como retirar das pedras os caminhos perdidos, Escrever é vão mas não como olhar a cera derreter de círios esquecidos,                               A dor é inútil pois incessante cava gestos e vazios macerados em fumo, E entre a luz e a sombra das velas paira a imensidão de um lugar sem rumo.

RAIZ

Sigo de campos sem lua com umas asas de cera nos abismos me esvazio, um tempo longe anuncia a correnteza  do absurdo e quase tudo fluindo rio, Golpeio o desejo no olhar fulmino a vida, os signos e aguardo retornar ao pó, talvez na rota do existir reveja outras geografias na confluência de ser só, E quando sobre o ventre do espelho sem memória vir essa sombra de tudo, de frente ao mar incerto da minha alma sem raiz retorne ao que não mudo...

LENDA GREGA

Seu nome - Atina ignoro o que dizer do seu talhe, sua boca, os gestos de asas sobre as vagas da noite, Seu corpo de claridades me fazia despertar de um sono de séculos sem sonhar a vida - - ela ria do infortúnio, Não há nada além – dizia entre cínica e pura, suas mãos em arco me queriam livrar a alma dos sargaços de doer, Foi a brisa ligeira fantasia, um sal de existir verdade e desencontro o tempo, que leva tudo sem avisar de partir..

OBLÍQUO

Entre flores caladas de jardins domados um silêncio perfuma a expandir o tempo, e o tempo contorna mundos vidas ciclos e nem memória fixa esse instante breve; Passa ao largo e vai displicente e avesso nem fogo nem cinza resta à brisa o ardor, e se esvai na pressa no sono e na espera como rio a findar-se pelo mar que o leva.

LACUNAS

As vezes quando a insônia vem ruminar a vigília de saber que a distância é que aproxima; As vezes quando a lágrima é o disfarce que a chuva espalha nas dobras da janela cinza;                              As vezes quando o tempo vai, antes de ensinar a sentir-se o amor além de pertencer; As vezes em que silêncios despencam de abismos sem que nada os possa jamais preencher.

REVERSO

A densidade das esperas estabelece tempestades e horas, Salas herméticas, praias lavadas em sol e nuvens repentinas, Tudo se tinge em delírio, as hipóteses quedam-se pesadas, que o pensar não é tudo a transbordar do entalhe da retina, Como uma asa distende na curva, ao se deixar ir inteira, a incompletude humana é a asa, dessa trajetória clandestina.

BIOGRAFIA

Sou o velho a lembrar paisagens, o moço a se aventurar por elas, e sou o menino que as imagina, Tenho na voz distância de estrela, quietude de mar sem calmaria e o silêncio, que tudo neblina,      Sou o corsário sem ilha do tesouro, rei que abdicou império e coroa, mendigo a resistir na esquina, Vim em noite de ermo e fogaréu, cresci em tarde nua de fronteiras, sigo essa manhã, que não termina. 

SUBSTÂNCIA

É do caos ao reverso onde me decifro o avesso, Sonhar é só a ponta post by  www.culturainquieta.com do iceberg imerso que aqueço, Se o sentido da vida não ultrapassa o rascunho,                    Me permito ser feliz quer seja aurora ou plenilúnio, Do que sei em mim de céu vento asa e caminho, Conheço de lágrima rio oceano - seiva e vinho.

SEM PALAVRAS

Coisas que não disse peixes invertebrados Going Downtown, 1976 - by Jan Saudek ondas - sem um mar, E se fazem ausentes asas pousadas, num abraço de não caber,                                     Me fartei de silêncios como quem se afoga da ausência na alma, E o outro lado é duro como naufragar o sol num brilho sem arder.

ENSAIO

Onde a flor pausa a abelha inicia, me pego na leitura do que prescinde de palavra, O silêncio diz mais quando acorda do nada, os sons que faço por apurar na madrugada, Liturgia triste essa de olhos sem ver o que passa, entre espaço tempo corpo e alma nua, Quem disse que não é fácil viver, nem provou os modos, todos impossíveis, de atingir a lua.