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Mostrando postagens de 2017

DESPERTAR

Sempre havia uma forma de pular no rio, de pegar a nuvem de inverter as coisas, depois dormir, então, catar no silêncio do lago isso que emerge quando se escuta umas não linguagens mudas de sentir; Sempre havia um jeito de mudar o mundo, comer a fruta colhida na lua, viajar numa estrela, então, recomeçava o dia mesmo que fosse a mesma história e nem mesmo sonhos pudessem detê-la; Sempre havia aquela fenda na fresta da porta, ou no telhado no escuro da vida, e essa esperança, como se tudo feito mais leve domasse a tristeza, fel desse mundo e tudo em nós acordasse mais criança…

DIVAGAÇÃO

sob o juízo do provável toda vida seria triste desse caráter da tristeza que a tudo impõe o vinco e fere o que há de leve, mas não me fio apenas nesse lado do controverso pedregoso e duro caminho que é o de manter-se vivo com um mínimo de sentido, nem também me privo da experiência de ousar para além das imposições a liberdade que se busca contraditória, ou não, não precisamos contar seja da vida, ou do ser qualquer coisa ordinária que não nos seja vivida de experiência própria, cada um de nós carrega por imposição, e destino porções fartas dessa dor mas também uma teimosia de enfrentar o que vêm, tristes por condição sonhadores por pretexto guiados pelo imprevisto damos ao norte inevitável o que nos é determinado, então, se a lua submerge as montanhas envelhecem ou nuvens se transfiguram o sem fim mostra o caminho pelos desvios da poesia…

CORRENTEZA

vezes sem conta me lancei à fogueira e revivi entre logros arbítrios e promessas parte do que sou, arder em meio às chamas, vezes sem conta fui crer no possível agarrado ainda à ideia de um apego insone de olhos fixos num céu desfeito em cinzas, by Ismael Nery vezes sem conta me dei a expor no museu de retalhos e despojos pérolas colhidas em vão de sonhos tornados pó nas areias do deserto, vezes sem conta fui a voz do silêncio a bradar pelos confins e deixei pegadas, suor nesse incansável seguir a insistente espera, vezes sem conta ouvi a voz do vazio a me mandar calar preces que não ousava dizer sem ferir o solo sagrado com a ânsia do desejo, vezes sem conta me entranhei do mar e no pleno do submerso envolto à correnteza nada há que me separe disso que em mim foge.

FRAGMENTADO

o corpo fragmenta-se poeira letal como a faca que apara vindima, sangue, e delírios, o corpo se parte e desfibra tessitura de átomos em voar num transpassar de artérias, o corpo incorpora a voragem em conjuras, e em alquimias brasas na chama que hiberna, Torso de Belvedere o corpo se retrai, e lateja deglute rios e bebe espaços em estações de gerar a flor, o corpo é de trilha incerta no desenho da irregularidade tangenciando a pele do caos o corpo se regira e inverte dispõe elipses, quadraturas na geometria do indecifrável, o corpo se nega à fronteira e aos somatórios do infinito que ao sem medida reivindica, o corpo prepara sua casca a forma que ao todo reúne o contínuo sopro da criação, o corpo desintegra certezas para abrir as portas da asa em que se conectam os sonhos…

O OLHO DO TIGRE

não tenho a chave de mim mesmo enquanto isso, desafio que o tempo me mostre as palavras que não sei para além do que seja o ponto final; preciso de assombros e tempestade de outras formas de revestir o físico e de uma gradação próxima do éter ou outro sentido que isso possa ter; inauguro em inventários de opostos as cicatrizes que sangram alquimias os subterfúgios de dividir-se em um a transfiguração plena de realidade; o olho do tigre diante da sua presa as batalhas que ainda não renunciei o espaço vazio do que calculava ser tudo é parte, indivisível, do que sou.

ALÉM DA JANELA

a estrela emoldurada na janela é a paisagem que imagino agora mesmo que não veja uma estrela e não haja no momento a janela,   e tudo isso seja apenas a fuga um modo poético de sair por aí a um lugar do qual não precise de meios físicos para alcançar, e tudo se resuma a uma palavra algo que se cria na imaginação essas coisas de sonho desperto que bem ou mal mudam instantes, e tudo possa ir mais além daqui do que se supõe ser a fronteira então, de um modo sobre-humano a vida comece a ter um sentido...

INÍCIO E FIM

é sempre além do limite a tela em frente, oceanos salão vazio, mundo perdido na feira desse cotidiano, o desencontro em tudo os mundos que se evaporam aparências que não enganam espelhos que não mostram, o espesso de um sangue a escorrer na artéria da rua os becos refugiam esse grito onde algo da luz se esvazia, na lápide da esperança a chuva disfarça a lágrima mas pouco menos que o grão continua esse ciclo da vida.

CORRENTEZA

do nascer de uma flor no intervalo do tempo o morrer de uma pedra o silêncio, o esquecer, de um pulo imprevisto da pulsação que vibra o acervo de ausências nas sacadas da espera, sigo de lugar a outro desdobro nessa ponte perfilada de palavras e não sei como chegar, amanhã, será o mesmo na esquina, num longe na curva sem estrelas no susto de continuar, estarei a postos, sei mas não acho o porquê qual a certeza do rio que seja mais que mar...

MOMENTO

guardo rompantes de nuvens nas horas em que entardeço e a terra gira as esquinas para a lua brilhar seu véu, quando entre deserto e mar o que sonho ampara o mundo ainda que algo sem sentido hiberne nesse sono sem fim, escrevo segredos nas pedras que levam nas asas do tempo o quanto não vi do incerto quando o sol despe a aurora… guardo rompantes de oceanos nas vezes em que me esqueço das coisas de pensar a vida e olho a imensidade seguir, me disfarço a massa informe a parte inconclusa, a falta ondas fiam a carne da noite por essa ausência no mundo, dividido em sombra e vazio viajante do que não alcanço recluso na própria miragem tudo que levo - é esse agora…

NOTURNO 2

t inha esse brilho nos olhos uma asa quebrada nos ombros tinha esse brilho de espelho transformado em muitos olhos, a arte de resistir aos ventos sem nunca se opor à ventania do barro veio, o pó tudo leva no mesmo sopro que o esvazia; tinha a carne fraca do sonho e uma lâmina acesa na vigília a espera que o devora alcança além da visão do fim das horas, sua arte de esculpir o incerto desse sumo que destila a vida e esse desencanto que tudo leva ao jardim de cinzas esquecidas...

FREEDOM

antes que me digam o que fazer abro as portas de par em par salto na fogueira acesa na lua mergulho o mar dentro dos olhos, antes que me digam o que fazer derramo palavras pela ventania pego o dia no peitoril da janela folheio as asas e rios do tempo, antes que me digam o que fazer dou à volta ao mundo num delírio jogo as tintas da luz na sombra reconquisto uma terra de sonhos, antes que me digam o que fazer deixo na praia a pele de escamas recolho nas ondas a minha alma e visto toda a nudez da liberdade…

DO QUE SEI

me custa é deter da tempestade a lucidez que não sei traduzir é trazer dos caminhos que andei a distância que não foi vencida, me custa essa nudez de desertos e o silêncio de um mar esquecido e o que quer que circule a rota das sombras de noites sem farol, sei desvelar das gotas de chuva uma ânfora que não esvazia a dor sei ler nas estrelas essa falta que não se coaduna nas palavras; me custa é apreender pelas horas no eclipse sem fim da eternidade e essa álgebra escrita em brasas de átomos a multiplicar os anjos, me custa retirar algo do sentido de nada possuir qualquer sentido e alcançar a eloquência do vazio no eco que se basta por si mesmo, sei da espera que devora, e adia desse hemisfério de seres adiados sei de toda história mal contada e de todas que não se deve contar...

BROKEN HEART

by J. Ribas

DISPERSÃO

os olhos que não me vejo e que no clarão se escondem onde não encontro retorno por uma luz que me faltasse, as mãos que não me toco e rasgam na pele de espuma de tramas, pelos, desertos uma alma que se entorpece, a boca que não me beijo a vibrar lua adentro na noite geme relâmpagos na rocha onde adormeço as palavras, o corpo que não me levo e que oscila vazio de desejos sólido, nu, e transparente    e se faz em átomo disperso …

SEM PALAVRAS

me ocorre o gesto inacabado de olhares se indo na distância como a onda sugada na areia quando rebenta a fúria na praia; e mãos que se deixam tocar mais uma vez, antes de se irem ambas, por caminhos opostos num diapasão de desencontros; isso que se põe sob o oculto do que é sombra sob as ruínas de poucas garantias, e medos e tudo que se despe no espelho; me ocorre mil noites sem fim e os dias que não se completam lugares que não se chega a ir entre estradas que se bifurcam; umas canções a esse respeito maldizem esse silêncio disperso enquanto a lua em sua vigília inventa a esperança dos loucos; todo o mar a perder de vista como se o tempo nem existisse voa nos sonhos que esqueço e surge a poesia, sem palavras...

CORAGEM

rezo em minhas noites de insônia para o recôndito deus que se apiede dos meus medos, e desses medos que nem sequer os carrego em mim; e às vezes, ouço na cor do silêncio a distância entre minha alma e a sua como se juntos, pudéssemos compor a materialidade de todos os vazios; diante da minha incerteza o flagelo da inconstância, e do pouco zelo por tudo quanto é servil, e humano tudo quanto se presume da verdade; uma medida para gestos, e desejos outra para o tempo, para as estrelas a fantasia da liberdade pinta o céu de um azul que não se pode lembrar; não posso escolher o que seja real dessa irrealidade que desenha a vida o que guardo de mim, é a coragem de seguir à frente do que me ofusca; nas minhas noites de insônia finjo que adormeci para além do que seja e o deus – ao qual me apego em vigília, é o sonho que torna possível existir…

ALGUM LUGAR

das coisas que se foram entre asas quebradas, pó, papeis velhos e memórias ainda contam segredos; o espelho já não reflete a chave não fecha o vazio o relógio parado no tempo esfria em horas ausentes; escadas giram em espiral para os desertos de gelo onde hibernam nos sonhos o quanto será esquecido; estrelas asfixiam na luz ventos, silêncios, oceanos... só queria sair desse lugar que ficou ausência em mim.

DIMENSÃO PARALELA

nunca estive lá e sempre estive lá no confluir onde o real se mistura com o que supomos ser imaginação, atravessei mares, escalei montes construí os tijolos desses castelos que se desfazem na areia do tempo, alguém diz que esse mundo inexiste outro duvida que se possa revelar o que a razão disfarça em loucura, mas sempre estive lá, é o que sinto em cada parede erguida no invisível entre as frestas que se ocultam na lua...

INTENSO

necessito urgente um poema que grite o nome das estrelas até se romper todo o silêncio, que reescreva a linha dos dias e as noites derramadas de lua sejam eternas até tudo acabar, um poema que una as pessoas dessa distância em que vivem até a proximidade que sonham, e que simplifique os caminhos em que trafegam ideias, gostos cores de ouvir, os sons de olhar, o poema fora da hora marcada fisgado na corrente da espera e que não diga como vai surgir, que permita o incerto dos voos o mergulho na estrada que leve pelo imprevisto caos do intenso... 

SECRET BOOK

às vezes me pergunto por lugares onde não estive em quais deles ficou parte da memória que sonho em qual lua em qual mar o coração bateu despercebido... tem sido assim a viagem por dentro das horas, dias no planeta que gira no quarto onde às vezes sigo a órbita num mundo preso no livro onde as palavras se escondem...

NA PELE DO CAOS

vago no deserto em mim de falhas de dissabores enquanto a lua deságua pela noite que não vem da janela, sei o tempo; assim como sei o vazio e as estações do eterno os semitons das baleias das conchas, das pedras da gestação de existir; quanto há de se debater no sargaço de incerteza e seguir a rota da vida? em que mar nos perdemos sem concluir o mistério? num milésimo de segundo caem as regras os muros na cartilagem das horas na urdidura das sombras nas artérias do invisível; o que resta se dissolve em músculos em estrelas arrepio na pele do caos paisagem vista ao longe de quando a noite chega…

VIDÊNCIA

o que não me define é o que pulsa comigo e a mim se assemelha, e embora meu reflexo por tudo se dispersa como chuva na telha; o que não me inicia by Mehmet Turgut é origem do que sou seja o fim ou início, o sopro da vertigem os ângulos da elipse o céu do precipício; o que não me liberta não me detém a busca nem me restaura a fé, me escraviza o corpo de um não lugar vazio que a alma vê onde é; que não me demarca nem deserto ou mar nem pedra, lua, chão, se o grito me resume um sopro do silêncio faz a palavra em vão...

MENSAGEM NA GARRAFA

são dias em que é preciso apertar o passo e esquecer a chuva desses dias que um sol cinzento anoitece a vida aos poucos sem crepúsculos à beira mar… são dias em que é preciso ser forte o bastante para seguir o curso das coisas, a fome a rota prescrita – e aquela curva onde a liberdade se esconde… são dias em que é preciso fazer de conta, sorrir ao bandido mesmo que depois se vomite a tarde inteira de impropérios sem esquecer os planos de combate… são dias em que é preciso ouvir os pássaros, e o silêncio insistir em algo mais que sonho que nos enraíze a sabedoria e faça outra realidade florescer… são dias em que é preciso escrever poemas e os jogar ao mar porque na ilha deserta que somos a resposta pode estar do outro lado e a pergunta mostra como chegar…

FILME NOIR

já era tarde da noite e as ruas dentro de mim estavam vazias de pensamentos os postes cheios de estrelas eram transportados ao céu… não era hora de ser romântico não tinha vinho na taça o sangue a pulsar nos músculos tingia de vida a imaginação (é certo que anjos choravam…) o que restou do mundo - um quadro de Dali em chamas - tudo dormia no gelo da madrugada grilos faziam o fundo musical num cenário de filme noir… da janela olhava a vida num lugar qualquer do planeta sons à distância lembravam que há os que nunca dormem (será que eles jamais sonham?) e o que restou do mundo cabia numa frase de Nietzsche para o qual olhar abismos os faz refletir de igual modo o inominável em nós submerso…  

O EQUILIBRISTA

destituído de certezas atravesso o fio da realidade passo a passo com a dúvida nesse exercício de equilibrar a verdade que me sustenta; o que me leva ao outro lado é também o que me paralisa ações e reações estudadas em gestos de inseto e fúria a fundir carne e metafísica; o que me espera, desafia em cada milímetro no espaço não importa se à distância rugem os pecados, e o medo me devolve uns olhos vazios; nada importa mais que ir na hesitação mesma, e na dor apesar de, a meio caminho, compreender não ser possível chegar onde jamais se alcança…

À SOMBRA

essa filosofia que procuro meio bêbada pelos becos meio nua de artifícios, cética e sem um norte improvável no improvável das questões, me excita o sexo amoldado me fura os olhos, a lucidez o patético da cobiça inútil o medir-se em comiserações no extremo das ausências, não sou bom em investigar desconfio dessas equações rezo incensos de distâncias preces onde afundo os pés a semear suor, e cansaços, as asas partidas, os refugos estilhaços de olhos, febres maleitas, remorsos a gemer num coito de interrogações no improvável de saber-se, essa matemática de desvios refaz subtrações e vertigem o hesitar de por-se a caminho e descobrir o pó do sempre na sombra que vaga o infinito…

STANDBY

me devoto ao impossível tanto quanto creio no tempo e seja próprio do existir o embate inútil das ideias, me devoto aos artifícios Michal Mackú como se a derme calcificada da alma, toda se adequasse em mimetismos e disfarces, no indissolúvel contrato do desencontro, e do vazio tudo é uma espera constante enquanto se macera a vida, mas o espetáculo continua seja noite ou tempestade e o que movimenta a máquina ao menos também a pulveriza...

POÉTICA

sei contar estrelas até cansar e enumerar nuvens pelos tons umas mais cinza, outras azuis aprendi cedo a planar avessos, deliberar os desusos e vazios foi um ato contínuo a discorrer assim como ver o imaginário fosse mais o certo que existir; sei coisas do como, do quando que nenhuma soma dispõe ver tudo que seja fortuito me fala num idioma de aflorar os rios, tudo de já esquecido no mundo me fala em olhos de horizontes o sol me forma sobre o tempo a lua me canta jeitos de sentir; entendo o invisível e a poeira leio fragmentos em espelhos sei a rota que une o impossível a esse mistério do outro lado, sei coisas do sempre, do porquê aquilo que se nega, eu afianço traço letras de tudo pertencer do pasmo ao imanente que advir...