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Mostrando postagens de agosto, 2012

POEIRA DE ESTRELAS

Noite Estrelada - Vincent Van Gogh D escobri poeira de estrelas Num pedaço amassado de papel Nele guardei dos meus sonhos O que a vida inteira me passou Breve, rodopio, carrossel F ui menino alado de voar os dias Cavaleiro de dançar folguedo Namorador e rei de sereias De espantar dragão e calafrio Com o sol nos meus brinquedos Fui homem manso e falador Decifrador de sinais e estórias Que quis mulheres e foi amando Corsário que arriscou do amor O tempo de não sei quando Fui velho a cismar o eterno Feiticeiro de domar os litígios Viajante das minas do inverno Amálgama de deserto e nevoeiro Por entre os ecos dos vestígios E da poeira que não vou contê-la Por sobre os escombros da vida Ou nos estilhaços da estratosfera Traço o arado nessas partidas Vou semear terras mais belas...  §§

ARQUIVO DE SOMBRA E VENTOS

Enigma - por J. Ribas ARQUIVO DE SOMBRA   E VENTOS Tenho guardado em mim O arquivo de rever a vida De não chegar ao impossível De já estar pronto, do sonho Enquanto estou vivo De querer improvisar a festa E vontade de bem amar Ainda sinto que me resta Tenho guardado em mim As sombras, desejos, o escuso O breve discurso do método O porto não tão seguro  O sol dividido no bolso A elegia e o cantochão Os lugares onde não andei As mordidas no pescoço     Tenho guardado cioso e ausente As tempestades e o vento Brumas que dilaceram teofanias Entre constância e resignação A panela das estórias Onde fervilham teimosias E os aromas da ocasião Que defumam as memórias Não quis guardar o invisível Por simples descuido Mas o absurdo, e o implacável Que poupo sem motivo E nas caixas lacradas, os desafios Dos pecados sem perdão Digladiam-se no cio divinatório Dos deuses sem predição Que saberei guardar

COSMOS e DESTINO

COSMOS Quero os impossíveis que estalam Dentro de salas fechadas e vazias As luas entre o mundo e o sonho... Procurar unicórnios em tapeçarias A hora passada sob os pontilhões Em correr as ondas perdidas de si E um barco imaginário a navegar Até encontrar-se o porto de existir Uma taça entre o vinhedo e o elixir Um pássaro entre beija-flor e cristal A esgrima a repartir alma e pessoa Sem que se consiga distinguir qual O toque distante da voz sugerida De legiões de sereias na tormenta O fulgor do sol a dourar o oceano E espelhar tudo quanto se inventa Não quero estar preso a fronteiras De erguer muralhas para o infinito Quero o chão de altivas planícies E colinas ao alcance de um grito. DESTINO Quando em absoluta distração O trovador inventa os seus versos  Detém-se a trajetória da estação E a origem de todos os universos  As montanhas tornam-se rasteiras Golpeadas por um encantamento E as nuvens s

Estrela e outros poemas

clique para ampliar DO COMBATE Entalhei aluviões em pouco barro E enganei a chuva dentro do rio Tenho perdido mares em conchas E muito pouco me permiti demolir Anêmonas, disritmias, e calafrios As garras do delgado sobressalto As órbitas dos olhos do grão-vizir Os gânglios amorfos de memórias E o cristal lácteo de ainda existir São frutos do meu último assalto Nem transpor a singularidade De ser prisioneiro dos elementos Ou fundear além do pântano azul Fizeram-me definir o arrazoado De ideários, causas, sentimentos Continuo sem certeza nenhuma Mesmo a fé dos dias ensolarados Ou o céu possível da primeira vez Mas as palavras são meus soldados E o combate, esse poema fez. Abstrato S/Título - por J. Ribas VIAGEM Depois de arrancar da estrela O supremo gesto de alvorecer E descobrir de ondas perfiladas A direção de todos os refúgios Estou ao pé da longa estrada Não havia transposto a curva Dos meus ma

SENTINELA

As flores são dispostas na janela Espelhos cicatrizam a luz do dia O ventre do céu engole nuvens Um momento disperso se recria Entre sombras que me surgem Como sentinelas, os meus receios Na altura de ausentes cordilheiras Através da qual estão a deslizar Os enganos de uma vida inteira Na corda bamba partida ao meio Bem sei quem sou nessa fronteira E sei o que busco dessa estrada Ainda a que agruras me destinam As pegadas pelo pó que estala A contornar os mesmos caminhos Mas que acendam essa fogueira E a alma queime o que a abrasa Outras distâncias e rumo ignorado Vou-me lançar ao sol a vida inteira Ainda que derreta a cera das asas. §§ Gastei tudo que não tinha Sou mais velho do que sou.     Fernando Pessoa