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SENTINELA



As flores são dispostas na janela
Espelhos cicatrizam a luz do dia
O ventre do céu engole nuvens
Um momento disperso se recria
Entre sombras que me surgem

Como sentinelas, os meus receios
Na altura de ausentes cordilheiras
Através da qual estão a deslizar
Os enganos de uma vida inteira
Na corda bamba partida ao meio

Bem sei quem sou nessa fronteira
E sei o que busco dessa estrada
Ainda a que agruras me destinam
As pegadas pelo pó que estala
A contornar os mesmos caminhos

Mas que acendam essa fogueira
E a alma queime o que a abrasa
Outras distâncias e rumo ignorado
Vou-me lançar ao sol a vida inteira
Ainda que derreta a cera das asas.

§§

Gastei tudo que não tinha
Sou mais velho do que sou.  
Fernando Pessoa

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