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Mostrando postagens de 2013

SUPER-HERÓI

A paisagem cinzenta, de uma manhã na cidade, é bem mais cinza que a ausência de qualquer cor, embora as cores se rebelassem aqui e ali em grafites pintados em pontos estratégicos. Gritos de silêncios em cores berrantes ou suaves, palavras cifradas, estrofes arrancadas de poemas roubados, imagens sem dono a impacientar a passividade do rebanho. Jota Gris sai voando pela janela, não veste o uniforme oficial de super-herói, talvez por não acreditar que seja um. Ao menos teve a decência de manter o mínimo para o decoro, mas a cueca rasgada não disfarçava a barriga, resultado de alguns dias, talvez semanas, vendo TV e comendo batatas fritas. Admitia ter perdido o rumo, a ética, o dever cumprido... Mas agora estava a voar, e observava aquela cidade caótica de outro ponto de vista; sem heroísmos, sem querer proteger ninguém, no seu momento. Tinha que buscar um tempo para se entender consigo mesmo, queria saber os porquês disso e daquilo, essas questões existenciais que recheiam o

DO CÉU E DE VOAR

Me dou conta do quanto é vão lutar contra a maré, mesmo que continue a nadar a favor de contrários, Sejam correntezas, ou a vida, é preciso ir em frente, que a distância não determine nem o tempo limite; É parte desse espírito humano, ou o que quer que seja, como se à falta de asas, saber do céu e de voar bastasse; Com isso se supõe as certezas, ou a falta delas, nenhuma verdade é a decisiva não há lei absoluta, Na impermanência do caminho está todo o sentido, o único infinito que se pode ter é a liberdade do agora.

LIMPIDEZ

É inútil presumir desculpas para vasos partidos, ideias, distração no relógio imóvel, tudo se prolonga sem peso; Navios afogados no deserto e nos certificados da ordem, a espalhar poeira no vergel, expõe-se o histórico da vida;                                  Escolher um único caminho de quantos estão em frente, mesmo que ir não expresse definir a jornada conclusiva;                      Sei pouco de estar a buscar na sala, a janela semiaberta é o caminho fluente do raio, na luz, sei onde há sombra; Do mar, não sei além do sal ou onda, se me deixar levar, da lua sei menos que névoa... claro é o sol entre incertezas.

UN CANTO ANDALUZ

Mi alma sueña de pasión, y magia, las sirenas faíscam sus cabelleras rojas, en mis ojos, el mar crispa olas de asombro, la poesía despierta de veces ya perdidos;                                                                                   Tierras de Andalucía en campos de olivo, la espada hiere el cielo puñal de plata en la mano, vaga la luna en el espejo en la noche de encanto, bradam las guitarras, el recuerdo enciende la llama de las hogueras;                            Mi alma sueña las canciones eternas de brindar esperanza en los corazones desiertos, Federico Garcia Lorca y cuidar del vergel abundancia y promessa, y la luz de las estrellas se arroja en los telhados;                    Tierras de Andalucía ¿cómo matar a un poeta ? ¿ con nueve flechas del fuego? ¿ con lanzas de agonía? ¿ con gritos del silencio? jamás se mata el poeta él vive en su palabra, más allá del que sea;                 Mi a

EM TRANSE

No espaço improvável entre os dedos e o teclado a viagem recomeça, de um questionável universo gotejam estrelas sem nome; Medito as sábias palavras do Mestre Zen, esqueço-me quem sou, o que seria, o que se tem por certo é alínea do imprevisto; Tentei crer em promessas com algumas lutei, não venci chove a estação do adverso entre retratos banidos e memórias sem perfume; Ciganas em transe de luz evocam os seus vaticínios   sereias ofuscam a lucidez com seu canto obscuro, no mar, a escuridão dorme;                                                                                                                       Ainda há lugar no paraíso ao bem-aventurado desvario desnudar o caos humano, as regras de bem viver, enquanto surgem galáxias; Vejo um espaço em branco ruas estreitas, sem chão sigo entre olhos atentos, uma vez ou outra, suspiros... e o mundo explode sem voz; Sete dias na semana, o vazio um mês inteiro,

POEMA EM LINHA SETA

Me falta a decisão do instante me falta a jugular do perigo “tantas vezes reles, tantas vezes porco” me falta a fartura do nada me falta o confluir dos rios tantas vezes gasto o equívoco consolo me falta o absurdo do simples e quanto me falha uma curva para num imediato trespassar essa reta me falta o começo de tudo me falta o espinho da aresta pôr um alvo à vista e se perder a seta... Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Fernando Pessoa

RAVENA

       Os olhos tristes jamais sorriam, seu coração esqueceu-se de como eram os trigais ao entardecer. Um rio de nuvens cinza chovia ausências em sua casa. Ao longe, os pássaros do tempo erguiam-se nos espaços, espectros de sombras transparentes.        Cada lâmpada acesa consumia o azeite das esperas, e a escuridão dançava brasas negras sob a luz da lua. Alguém pronunciou seu nome, de um lugar paralelo ao mundo, onde os espelhos se afundam em lagos de vidro.        - Ravena, já se aproxima o dia...         Os seres mágicos cantavam na aurora, e ela percorreu as escadarias da madrugada, para abrir de leve a janela da sala. Seus passos vacilam até alcançar os frisos, o brilho dourado raia no horizonte.        Não houvera tido visão tão bela, o medo se dissipava com o dia a nascer, os olhos se encheram de uma sensação nova, um aperto em seu peito lhe doía, as palavras em sua alma se perdiam em vazios, e finalmente, ela as compreendeu e sorriu.

QUASAR

já recitei ao vento a minha homilia do nada meu templo é a vida, quem me segue voa com as asas que ofereço tenho olhos que raiam, renasci de morrer em mim mesmo a tudo que não esteja vívido,                     o meu segredo lavro minas descobertas em mistérios, e paixão,                                                                                           não sei de princípios bebo uma revolta afiada que não cede palavra, o que tenho de céu salvo da vaga liberdade que me expropriam, um sem sentido me conduz às esferas e, se não há respostas... no absurdo sonho o lugar sem fronteiras onde toda a alma pulse.

CURTA-METRAGEM

Folheio um volume das esperas em lugares onde a poeira derrui a solidez das horas, E nada estabeleço de arquivos em suspenso, ou das miragens que saltam das paredes, Na tela, a Gioconda tergiversa o sorriso, e divide-se o abismo de demarcar ilusões;                      Paciência é um barco no limiar do naufrágio, ouço o temporal de uma tarde detida, Às vezes, existir é tão incerto quanto o corte nesse estigma de revirar significados, Então, deflagra o som marcial e se ouve a batida monocórdia de lutar um coração.  

DESORDEM

Quem diria que guardava tantas coisas sem atentar na inutilidade delas, Despedaço e me rescindo de papeis dicionários e pó a mancha nos óculos, A última fatia de traduzir o ideograma da rendição no rasgo de esperança,                           Protestos, contas a pagar os prognósticos da loteria cansaço de germinar... Antares fica além, e Vega nem avalio, penso viagens na mira de astrolábios, Um besouro voa ao lado, dos objetos que preservo esse, é o único livre.

PRESENÇA

uma vez, esqueci num canto de sala uma palavra revirei gavetas, o lixo arquivos, verões baús, e portfólios procurei em curvas guetos, alcovas... sem gemido ou sono                                                                                  afundei em oceanos cavei em galáxias e cafés de esquina uma palavra nada mais que isso e jaz nua, aqui dentro. PRESENCE once forgot a corner room a word, rolled drawers, trash files, summers chests, and portfolios, searched curves, ghettos, alcoves ... without whimper or sleep, sunk in oceans dug in galaxies and corner cafes, a word, nothing more than that and lies exposed, in me.

CÔMPUTO

A equação do voo das moscas o zunido do fosso dos ventos, O número de grãos da areia a ferrugem dos dias e da alma,                                                                        O azul a lua etérea,                              as páginas obscuras do Índex, voos e ardis,                                                                                 O abecedário das formigas o sustenido dos pardais, O sol nos bancos das praças a ordem objetiva do mundo... Tudo foi calculado.

CLANDESTINO

À noite atravesso as ruas Em busca do que esqueço, A luz fosca das lâmpadas Ofusca estrelas do avesso;   Horas que voam, não sei De onde vim, aonde vou... Os sinais me fazem seguir A trilha que outro sonhou;                   E no sonho perco o rumo Das esquinas, e multidões A rondar atalhos secretos E os faróis nas amplidões; E no sonho, incerto norte Em cada passo me apago, Sem, no entanto, concluir As estórias por onde vago.

CERNE

Do absoluto e vago que me distancio escrevo o meu diário sem respostas; Não me intimida saber direção ou indício, do caminho que não vejo;                                                             Tempo que passou não me dei conta, desatento em ajustar a via das horas; A profundeza das coisas é que leva, aos lugares dos quais não se retorna.

SELENE

a lua cheia que ansiei hoje esteve um pouco na janela, girou, depois voltou ao céu fiquei com um retrato dela; da lembrança, fiz o poema que não cabe nessa estória, da ausência, sigo a estrada desde que perdi a memória; com a vida distraio relógios para me enganar do tempo, e a lua com quem converso, longe me fixa pensamentos... virá mais uma vez, aguardo outra fase, em outra janela, nesse dia, prendo suas asas, finda-se de vez com a espera.   

SOM

Entre ronco de motores e gorjeios de passarinhos interponho subterfúgios, É melhor abrir os olhos para a confluência exata das cinzas dos silêncios,   Que avivar o rascunho das palavras sem sentido que incendeiam ao lado;                            No mundo feito de ecos paro de repetir o tumulto e oscilações do aquário, Para ouvir do mar pleno que guardava clandestino, os discursos e fragores, Nenhum som repercute o compasso das esperas mais que o rugido do ser.