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Mostrando postagens de julho, 2014

ENSAIO

Onde a flor pausa a abelha inicia, me pego na leitura do que prescinde de palavra, O silêncio diz mais quando acorda do nada, os sons que faço por apurar na madrugada, Liturgia triste essa de olhos sem ver o que passa, entre espaço tempo corpo e alma nua, Quem disse que não é fácil viver, nem provou os modos, todos impossíveis, de atingir a lua.

VERTIGEM

Para me lançar do modo incisivo levo o fogo no sabre o raio na esfera o beijo na boca, Caem muralhas e um rio secou Cage - 1970 by Jan Saudek anjos foram banidos... mas a asa pulsa sucessiva e louca,                              Há que salvar depois da queda um quê de fantasia que faça romper dos olhos tristes, Mais que tudo essa consciência de libertar-se o ideal da rasa vertigem que nos resiste.

MIRAGEM

O que trago é nuvem guardada há muito mas houve um tempo de azul sem névoa em que voar marcava o corriqueiro do dia; Perdi-me de mim não plantei os sonhos dissipados que foram,                            mas ainda me falam numa língua perdida, as dúbias estrelas; O que resta agora? - afundar o céu no lago onde a lua se espelha, lançar as pedras devassar os mundos, e recompor a miragem.

CICLO

O mecanismo do desencontro engendrado em teares de dias onde as horas tecem esperas, E as engrenagens a mover-se num círculo de voltas sem fim no pó de átomos e borboletas, A vida é máquina sem direção como uma escada a submergir em espiral num mar de sonho, Num repente de chegar ao fim e se perder nos azuis remotos sem concluir o que se demora,  E tudo retorna ao seu começo quando não havia do universo senão o átomo, sopro da ideia.

PROJEÇÃO

Uma pedra constrói o seu voo do ponto que a nuvem é sombra, Uma vida ergue sua vontade da sombra que a luz desembaraça,                    Tanto o peso quanto a asa fluem um equilíbrio de forças inexatas, Existir é voar extensões de céus sobre o deserto diluído em fumaças.