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Mostrando postagens de janeiro, 2016

COTIDIANO

sim, estou vivo - pensa - ao despertar de manhã, os pássaros cantam seja lá o que entendem por cantar e enquanto ouve, ele pondera as dilatações do nada a vagar em sua cabeça - barcaça sem mar; sim, estou vivo - e tudo vem com lentidão como se o universo inteiro devesse girar desde a origem até retomar sua forma e explosões, nebulosas, planetas estrelas, os seres todos reocupassem seu lugar; sim, estou vivo - a consciência, os significados abre-se um feixe de luz a esperança sorri sua nudez a alegria diz sua paródia e o sol - que nem é eterno - de sorriso em chamas, brilha sua indiferença...

EXTINÇÃO

esse mundo ideal intransponível feito de matéria brilhante e ilusórias necessidades mundo da inconstância de palavras líquidas e líquidos sentires onde as asas se calam transidas em sombras; vejo animais exôticos seres à beira da extinção as mentiras sazonais os beijos na boca campos a serem arados a falta de tempo legalidades e artifícios monotonias, dissenções metas a cumprir; mundo do belo morto antes de brotar sementes asfixiadas parto desbotado da dor da contrafação das cinzas afagando cifras mágicas anunciadas em noite sem lua num jogo de certezas onde não cabe a poesia...

CONCHA

no silêncio das coisas decifro a voz do mundo sem que queira colher seja ideal, ou verdade; que vou meio a esmo entre reentrâncias, rios estrelas do impossível cronometrias, avessos; fico bem - à margem, no obscuro, nos becos na estância da sombra nesse eco circunscrito; nem rima nem prosa a palavra feito concha meio pérola meio areia veia aberta, absconsa; ouço sons desconexos e o tempo vem distrair teoremas que somam - números de não existir...

RETALHOS

Abigail é destra mas escolheu a esquerda embora dance muito bem o que gosta mesmo é de voar não que uma coisa anule a outra senão que esta completa aquela; Rainer é meio vesgo porém, vê coisas que ninquém ousa manca de uma perna contudo, em raros momentos,  e a sós com seus sonhos, corre distâncias inimagináveis; Devaki é idosa e faz doces criou os filhos, ficou só as poucas memórias que guarda ficaram nas trilhas escritas em seu corpo pelas mãos de seu amado; Tzabo é órfão seu pai é a maior árvore da floresta sua mãe, uma nuvem de chuva quando acorda toda manhã sabe que o dia será bom pois entre outras coisas, é poeta; Keiko mora nos montes e guarda rebanhos de ovelhas em noites de lua cheia já deu de pensar que o silêncio é como correr ao vento sob um véu bordado de estrelas; Cisco já viu a morte por isso respeita a vida ele sabe que todo o universo é composto de pequenos retalhos e juntos formam essa his

CENA NA RUA

um coração a boiar na turba sem identidade, endereço, ou número perdido em meio ao burburinho de ruas asfaltadas e pessoas sem rumo; um coração extirpado, e anônimo a pulsar insistentes e arredios sinais by Lee Jeffries tão silencioso quanto ignorado por todos e penso, poderia ser qualquer um; esse coração não fala, não olha não respira, nem voa no azul dos prédios que refletem um céu vazio de estrelas nos vidros polidos da ci-vi-li-za-ção; podia ser o próximo astro de cinema ou o artista pop do momento o guru iluminado, o avatar do novo milénio é apenas um coração, no entanto; ainda assim ele está lá para a perplexidade dos indiferentes para a mofa dos que já nem creem mais como um sinal abnegado de existir a vida.