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Mostrando postagens de janeiro, 2015

ESPÓLIO

me deixem as rosas que levem o jardim levem as palavras me deixem a poesia, não quero mar as luas de Saturno a comenda da Ordem ou a Opala do Vizir, levem os dísticos os parâmetros, a febre o ventre da lua, o zéfiro a última asa de cera, fica a página nua o arroio de noite infinita essa coberta de frio me deixem a poesia...

JOGO

é mais fácil o pó que a chuva mais fluido o sol que a risada mais luz a semente que a lua cheia mais perto desejar que a espera, a nomenclatura é mais que título a janela aberta é mais que olhar a nudez de ver é mais sombra que transparência na ferida do corpo, é mais humano o não saber que a verdade e ter nada a dizer é tão crível quanto jogar no lance decisivo o simples de existir, o mistério é mais que palavra o espasmo a dor é mais que rugido saber a distância é mais que chegar azul é mais que céu ser, mais que brasa.

RÉQUIEM

o poeta morreu na praça sua casa sem arcabouço seu lar liberto de pactos, depois de morto – sorriu espreguiçou sua limpidez para além da indiferença, depôs os acordes da  lira em um silêncio só audível aos tecedores da aurora, ergueu as asas cansadas para além do olhar vazio daqueles que não o viam, e incerto, como um poeta foi ao encontro do depois sem a dor de quem nasce, ainda procuram no banco talvez num último poema o que sua falta diz de tudo.

UNIDADE

mas vou cair na cilada das respostas prontas das hipóteses medidas do pressuposto atávico na fronteira da lucidez, não tenho como saber a direção mais segura o alinhamento da rosa do teorema do número ou da curva do abismo, entendo de arder nadas sufocar espaço sem fim enevoar a cor do tempo pisar a nuvem na pedra romper o céu num salto, na humana água destilo nesga de sonho que vou porção de toda partícula a unidade de cada ponto átomo que faz o mundo.

MODELO VIVO

nunca pensei que fosse tanto o desamparo de estar nu, observado e nu, um desenho consumido por J. Ribas por entre tentáculos; nunca pensei (geralmente penso menos) mas estar nu é doído ferida de sol no segredo                                           quarto sem amantes livro, fechado no escuro; nu e quase em pedaços os olhos se insurgem e o corpo está ali, largado  mas a alma, esse pássaro de fogo azul, jamais se rende.

SACRIFÍCIO

tantas vezes lhe matei mal suspeitava então a facadas, com pedras com salada envenenada e com molho de limão, e fiz isso com requintes de amorfa crueldade sacrifícios, holocaustos ao bezerro de ouro vazio pelas ruas da cidade, eu matei no desamparo com quem uiva à lua o sangue a manar estrela e os olhos sem destino de uma Vênus toda nua, matei sem remorso, frio assim me julguei livre mas vem na asa o abismo dessa saudade de existir cada sonho que não tive...