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Mostrando postagens de outubro, 2014

CINZEL

me falha a inspiração apelo ao meu silêncio de séculos, guardado sob a poeira de durar, por fugir das palavras é que sei andar na cor do gosto e na ternura das paisagens da vida, se algum poema grita outros não saem fora mas se olho de frente ocultam tudo que sou, passageiro do inverso ganho parte de existir a inventar uns modos de refletir - asperezas.

NASCEDOURO

todo verso é substrato como resíduo da alma buraco aberto na vala de subtrair o anverso, e o verso indetermina mal se sabe o começo quando sei o que digo num instante esqueço, que o verso é um risco uma espécie de perigo um mergulho enquanto - observa-se o umbigo, pois um verso é senão tangência, ângulo reto grito aceso de silêncios gestação antes do feto, mas o verso não recua gane, na hora de parir depois vai, porta afora quando a saída é não ir.

ALÉM

esquadrinhei de lanterna em punho a minha alma de labirintos reclusos, até onde vou a paisagem esqueço até onde sei o espaço me devora, esfinge de lua mistérios do sempre da inquietação da noite sem estrela, o cicio do vento e cânticos de esperar polifonias de raios na culminância do ser, esse decifra-me é espelho que me fita só há resposta onde além é miragem.

INVASÃO

Entendi que os olhos trazem rompantes de não ver, para ir ao por dentro que se esconde em labirintos, Desentendi o mundo e suas panaceias do absurdo, do quanto não saiba de tudo, sei menos disso que sinto.

DESVOAR

minha casa é sopro de ventos a vela de um barco sou flecha de seguir partida antes de pender-se o arco se um dia desperto e me fustigam  franjas num sol azul                 reinvento um norte pois - certezas -  desencontro ao sul o que for da beleza é preclaro do ser revolvido em feridas não há levezas no ar sem pesar a dor nas asas - na vida...

A FOME

quando as palavras fogem feito asas de pedra líquida em rios que não se movem, qualquer oceano é escasso para conter quanto não há de que preencher o espaço, qualquer espaço é pequeno e o imenso exprime o nada do quanto ainda não vemos,                                               entanto, tudo é vislumbrar de tempos, caminhos, e pó em travessias sem retornar, mar de pedra esculpida flor na imobilidade de florescer do chão de aprisionar a dor, desenlaço silêncio profundo, enquanto mastigo palavras - a fome - é devorar o mundo.

VIGÍLIA

Escrever dói mas não como retirar das pedras os caminhos perdidos, Escrever é vão mas não como olhar a cera derreter de círios esquecidos,                               A dor é inútil pois incessante cava gestos e vazios macerados em fumo, E entre a luz e a sombra das velas paira a imensidão de um lugar sem rumo.

RAIZ

Sigo de campos sem lua com umas asas de cera nos abismos me esvazio, um tempo longe anuncia a correnteza  do absurdo e quase tudo fluindo rio, Golpeio o desejo no olhar fulmino a vida, os signos e aguardo retornar ao pó, talvez na rota do existir reveja outras geografias na confluência de ser só, E quando sobre o ventre do espelho sem memória vir essa sombra de tudo, de frente ao mar incerto da minha alma sem raiz retorne ao que não mudo...