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Mostrando postagens de julho, 2017

NA PELE DO CAOS

vago no deserto em mim de falhas de dissabores enquanto a lua deságua pela noite que não vem da janela, sei o tempo; assim como sei o vazio e as estações do eterno os semitons das baleias das conchas, das pedras da gestação de existir; quanto há de se debater no sargaço de incerteza e seguir a rota da vida? em que mar nos perdemos sem concluir o mistério? num milésimo de segundo caem as regras os muros na cartilagem das horas na urdidura das sombras nas artérias do invisível; o que resta se dissolve em músculos em estrelas arrepio na pele do caos paisagem vista ao longe de quando a noite chega…

VIDÊNCIA

o que não me define é o que pulsa comigo e a mim se assemelha, e embora meu reflexo por tudo se dispersa como chuva na telha; o que não me inicia by Mehmet Turgut é origem do que sou seja o fim ou início, o sopro da vertigem os ângulos da elipse o céu do precipício; o que não me liberta não me detém a busca nem me restaura a fé, me escraviza o corpo de um não lugar vazio que a alma vê onde é; que não me demarca nem deserto ou mar nem pedra, lua, chão, se o grito me resume um sopro do silêncio faz a palavra em vão...

MENSAGEM NA GARRAFA

são dias em que é preciso apertar o passo e esquecer a chuva desses dias que um sol cinzento anoitece a vida aos poucos sem crepúsculos à beira mar… são dias em que é preciso ser forte o bastante para seguir o curso das coisas, a fome a rota prescrita – e aquela curva onde a liberdade se esconde… são dias em que é preciso fazer de conta, sorrir ao bandido mesmo que depois se vomite a tarde inteira de impropérios sem esquecer os planos de combate… são dias em que é preciso ouvir os pássaros, e o silêncio insistir em algo mais que sonho que nos enraíze a sabedoria e faça outra realidade florescer… são dias em que é preciso escrever poemas e os jogar ao mar porque na ilha deserta que somos a resposta pode estar do outro lado e a pergunta mostra como chegar…

FILME NOIR

já era tarde da noite e as ruas dentro de mim estavam vazias de pensamentos os postes cheios de estrelas eram transportados ao céu… não era hora de ser romântico não tinha vinho na taça o sangue a pulsar nos músculos tingia de vida a imaginação (é certo que anjos choravam…) o que restou do mundo - um quadro de Dali em chamas - tudo dormia no gelo da madrugada grilos faziam o fundo musical num cenário de filme noir… da janela olhava a vida num lugar qualquer do planeta sons à distância lembravam que há os que nunca dormem (será que eles jamais sonham?) e o que restou do mundo cabia numa frase de Nietzsche para o qual olhar abismos os faz refletir de igual modo o inominável em nós submerso…  

O EQUILIBRISTA

destituído de certezas atravesso o fio da realidade passo a passo com a dúvida nesse exercício de equilibrar a verdade que me sustenta; o que me leva ao outro lado é também o que me paralisa ações e reações estudadas em gestos de inseto e fúria a fundir carne e metafísica; o que me espera, desafia em cada milímetro no espaço não importa se à distância rugem os pecados, e o medo me devolve uns olhos vazios; nada importa mais que ir na hesitação mesma, e na dor apesar de, a meio caminho, compreender não ser possível chegar onde jamais se alcança…

À SOMBRA

essa filosofia que procuro meio bêbada pelos becos meio nua de artifícios, cética e sem um norte improvável no improvável das questões, me excita o sexo amoldado me fura os olhos, a lucidez o patético da cobiça inútil o medir-se em comiserações no extremo das ausências, não sou bom em investigar desconfio dessas equações rezo incensos de distâncias preces onde afundo os pés a semear suor, e cansaços, as asas partidas, os refugos estilhaços de olhos, febres maleitas, remorsos a gemer num coito de interrogações no improvável de saber-se, essa matemática de desvios refaz subtrações e vertigem o hesitar de por-se a caminho e descobrir o pó do sempre na sombra que vaga o infinito…

STANDBY

me devoto ao impossível tanto quanto creio no tempo e seja próprio do existir o embate inútil das ideias, me devoto aos artifícios Michal Mackú como se a derme calcificada da alma, toda se adequasse em mimetismos e disfarces, no indissolúvel contrato do desencontro, e do vazio tudo é uma espera constante enquanto se macera a vida, mas o espetáculo continua seja noite ou tempestade e o que movimenta a máquina ao menos também a pulveriza...