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DESEJO

qualquer coisa passa
mas o desejo fica, e fica
onde não se percebe
nem seiva nem sopro,

fica como uma névoa
de um outono indefinido
na sala onde se rezam
as exéquias de sonhar,

e sangra na corrosão
de cerzir o tecido velho
num revês de esquecer
o que não foi bordado,
by James Houston

mas permanece ali
e será o mesmo desejo
a queimar em geleiras
olhos vidrados na luz,

a suspirar sua ânsia
nos cubículos de sentir
sem se haver de palavra
para exprimir um grito,

mudo se contorce
nas valas dos penedos
onde sobre a pedra nua
quedam luas, calafrios

e a aridez do mundo
o naufrágio dos tempos
uma jornada sem rumo
desde o porto sem mar.

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CÔMPUTO

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STANDBY

me devoto ao impossível tanto quanto creio no tempo e seja próprio do existir o embate inútil das ideias, me devoto aos artifícios Michal Mackú como se a derme calcificada da alma, toda se adequasse em mimetismos e disfarces, no indissolúvel contrato do desencontro, e do vazio tudo é uma espera constante enquanto se macera a vida, mas o espetáculo continua seja noite ou tempestade e o que movimenta a máquina ao menos também a pulveriza...

O OUTRO

Me desfiz de mim há algum tempo esse que tropeça entre móveis, gestos é outro mais incerto, Aposto aos dias às horas mornas cego e absoluto Menino Sentado - Portinari de vazios, equívocos viagens sem retorno, Faísca em geleiras seu coração rude mãos calejadas                         o arado nas pedras a trespassar o desejo, Abala os montes acordos, os mitos apura a veleidade inútil das esperas, do sonho impossível, Falho de verdades à beira do abismo entre asa e vento segue o caminho, é outro mais incerto.