(pelos 100 anos do poeta Manoel de Barros)
by fotógrafa Adriana Lafer - no livro "Arquitetura do Silêncio" |
§01
já ouvi
pelo cheiro a cor
por onde a
crisálida dorme
e depois
se desfaz mariposa,
sei -
quase por instinto
encontrar
um azul escondido
com jeito
de ser borboleta,
isso que
a humanidade tem
de perder
tempo com números
somas, leis,
e importâncias...
melhor é fugir
da canseira
que nem fui
sonhar acordado
nos
ombros das ribanceiras.
§02
havia uns
olhos a vigiar
no meio
do mato, e pelo céu
as coisas
que ninguém via,
tinha na
cabeça esse véu
feito das
asas de um sabiá
tons de
tarde e ave-marias,
de
repente, mundo acabou-se
e o que
sobrou foi pedra
flor, e
canto de passarinho,
foi
então, quase alvorada
que o
tempo desaguou o Homem
no rio de
não estar sozinho.
§3
só menino
faz a vida existir
com
pedaço de coisa esquecida,
o cadarço
do sapato é corda
de laçar
besouro, e lagartixa,
papel
vira pipa no arco-íris
o seu
quintal é outro planeta,
pega o
galho torto da árvore
e logo o
transforma em caneta,
e se põe
a desenhar inventices
cujo
propósito, a cada risco,
é
procriar no mundo a poesia
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