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BÁLSAMO

“o poema senhores,
nem fede, nem cheira”*
o poeta por sua vez
é a fragrância decisiva
e despudorada de tudo
o suor das pedras nuas
na secura dos desertos,
a tormenta do mundo;

o poeta exala absurdos
esparge impossíveis
reacende os incensos
das resinas interiores
e trescala dos bálsamos
o absconso dos sonhos
“o poema senhores,
nem fede, nem cheira”*;

que o poeta traz o pó
entranhado dos tempos
aroma de água da chuva
na eira de rios exauríveis
dissemina-se delírios 
e espalha na sua palavra
o mal cheiro do mundo
como um novo perfume...


* De um poema de Ferreira Gullar.

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me devoto ao impossível tanto quanto creio no tempo e seja próprio do existir o embate inútil das ideias, me devoto aos artifícios Michal Mackú como se a derme calcificada da alma, toda se adequasse em mimetismos e disfarces, no indissolúvel contrato do desencontro, e do vazio tudo é uma espera constante enquanto se macera a vida, mas o espetáculo continua seja noite ou tempestade e o que movimenta a máquina ao menos também a pulveriza...

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Me desfiz de mim há algum tempo esse que tropeça entre móveis, gestos é outro mais incerto, Aposto aos dias às horas mornas cego e absoluto Menino Sentado - Portinari de vazios, equívocos viagens sem retorno, Faísca em geleiras seu coração rude mãos calejadas                         o arado nas pedras a trespassar o desejo, Abala os montes acordos, os mitos apura a veleidade inútil das esperas, do sonho impossível, Falho de verdades à beira do abismo entre asa e vento segue o caminho, é outro mais incerto.