Pular para o conteúdo principal

RABISCOS



Essas palavras jogadas ao vento
Nem céus e terras ultrapassam
São umas palavras que invento
Desse retrato aferrado de existir

Algumas libertam pensamentos
De outras o destino é submergir
A bordo dos barcos naufragados
Nos temporais severos de existir

São cartas perdidas, já sem uso
E frases que ecoam sem dormir
A tecer monólogos inconclusos
Esse burilar contínuo de existir

As confissões inúteis, sem data
As horas ocas e tempos por vir...
Palavras, mutiladas do que falta
São apenas os rabiscos de existir.

§§


Em volta tudo ganha
a vida mais intensa,
com nitidez de agulha
e presença de vespa.

João Cabral de Melo Neto

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CÔMPUTO

A equação do voo das moscas o zunido do fosso dos ventos, O número de grãos da areia a ferrugem dos dias e da alma,                                                                        O azul a lua etérea,                              as páginas obscuras do Índex, voos e ardis,                                                                                 O abecedário das formigas o sustenido dos pardais, O sol nos bancos das praças a ordem objetiva do mundo... Tudo foi calculado.

STANDBY

me devoto ao impossível tanto quanto creio no tempo e seja próprio do existir o embate inútil das ideias, me devoto aos artifícios Michal Mackú como se a derme calcificada da alma, toda se adequasse em mimetismos e disfarces, no indissolúvel contrato do desencontro, e do vazio tudo é uma espera constante enquanto se macera a vida, mas o espetáculo continua seja noite ou tempestade e o que movimenta a máquina ao menos também a pulveriza...

O OUTRO

Me desfiz de mim há algum tempo esse que tropeça entre móveis, gestos é outro mais incerto, Aposto aos dias às horas mornas cego e absoluto Menino Sentado - Portinari de vazios, equívocos viagens sem retorno, Faísca em geleiras seu coração rude mãos calejadas                         o arado nas pedras a trespassar o desejo, Abala os montes acordos, os mitos apura a veleidade inútil das esperas, do sonho impossível, Falho de verdades à beira do abismo entre asa e vento segue o caminho, é outro mais incerto.