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GRITO


In Blue - por J Ribas 

O pôr-do-sol transversal
Estende o seu ouro velho
Nas cercanias do planeta
Deixo o caos me distrair
Borboletas sugam o açúcar
Das horas breves;

Minha vida suburbana
Sob os holofotes do circo
Encolhe a cauda espinhosa
De dromedário ronceiro
O sertão da caatinga nua
Encharcado de neve;

Fujo para o mar verdoso
Dos seus olhos castos
Beijo seus seios túrgidos
De alvos alabastros
A turmalina e o minério
Da alma se abrasam;

Um anjo sob o viaduto
Grafita os sinais do céu
Mimetizados na luz
Adão e Eva fogem do paraíso
Entre folhas de parreira
E maçãs, eles descasam;

Não quero entender
O mundo e suas falácias
Não vejo cor no cinza
Esse gris não tem graça
Há mais cores entre mim
E o que se oculta infinito;

Se buscasse o provável
Não o teria percebido
Tanto quanto me perco
Nos quânticos espasmos
De atravessar o fio
Insurgente desse grito. 



Adão e Eva - Albrecht Dürer


A poesia é um grito 

que rebenta do silêncio,
E nele permanece
alçada sempre ao infinito.

J Ribas

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CÔMPUTO

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STANDBY

me devoto ao impossível tanto quanto creio no tempo e seja próprio do existir o embate inútil das ideias, me devoto aos artifícios Michal Mackú como se a derme calcificada da alma, toda se adequasse em mimetismos e disfarces, no indissolúvel contrato do desencontro, e do vazio tudo é uma espera constante enquanto se macera a vida, mas o espetáculo continua seja noite ou tempestade e o que movimenta a máquina ao menos também a pulveriza...

O OUTRO

Me desfiz de mim há algum tempo esse que tropeça entre móveis, gestos é outro mais incerto, Aposto aos dias às horas mornas cego e absoluto Menino Sentado - Portinari de vazios, equívocos viagens sem retorno, Faísca em geleiras seu coração rude mãos calejadas                         o arado nas pedras a trespassar o desejo, Abala os montes acordos, os mitos apura a veleidade inútil das esperas, do sonho impossível, Falho de verdades à beira do abismo entre asa e vento segue o caminho, é outro mais incerto.