A paisagem cinzenta, de uma manhã na cidade, é bem mais cinza que a ausência
de qualquer cor, embora as cores se rebelassem aqui e ali em grafites pintados
em pontos estratégicos. Gritos de silêncios em cores berrantes ou suaves,
palavras cifradas, estrofes arrancadas de poemas roubados, imagens sem dono a impacientar
a passividade do rebanho.
Jota Gris sai voando pela janela, não veste o uniforme oficial de super-herói,
talvez por não acreditar que seja um. Ao menos teve a decência de manter o mínimo
para o decoro, mas a cueca rasgada não disfarçava a barriga, resultado de
alguns dias, talvez semanas, vendo TV e comendo batatas fritas. Admitia ter
perdido o rumo, a ética, o dever cumprido...
Mas agora estava a voar, e observava aquela cidade caótica de outro ponto
de vista; sem heroísmos, sem querer proteger ninguém, no seu momento. Tinha que
buscar um tempo para se entender consigo mesmo, queria saber os porquês disso e
daquilo, essas questões existenciais que recheiam o blá blá blá bem intencionado de livros de autoajuda.
Que fossem cuidar da própria vida, pensou, estava farto de pegar bandidos,
atravessar velhinhas nas ruas, resgatar gatos em árvores, trazer maridos bêbados
para casa, falar sobre a paz mundial... Sabia que a paz era um troço
importante, queria apenas ter a sua. Pousou em uma nuvem, esqueceu quem devia
ser, e então foi livre com a verdade do que era.
Os super-heróis também pensam em suicídio...
ResponderExcluirEnfrentar a realidade interior é encarar os extremos... e sempre estaremos no limite do suportável! É a vida! Grato, sua opinião é sempre bem-vinda! Abraços.
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