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Sinal e outros poemas

Playing in the sky -  J. Ribas
                           
SINAL

Teço casulos em torno
Das dobras do arco-íris,
Cruzo rios contrários 
Do ar a varrer as nuvens,
Suturo os astros pungidos
Céus que se insurgem;

Mas não aprendi as rezas
De deter abismos e escuros,
Escondi poucas cores
Pelos alcantis da aurora,
E resta pouco tempo
De achar o que procuro;

Pudesse ao menos ver
O caminho por entre o véu,
Ou sentir qualquer sinal
Sob as escamas do vergel
E de alma nua, afinal 
Ir aos mares do paraíso;

Que tudo que tenho
É pouco mais que a espera
De um fugidio momento,
A memória que escapa,
O quadro que se desfaz
Da cena que apresento;

Mas vou seguir adiante
Em voo cego pela noite, 
Das touceiras de sonhar
Agarro uma última estrela,
Que é acesa de imaginar 
E nada pode retê-la.




COMPLETUDE

Estou predestinado
A me sentir faltando
Mais do que se fosse pleno...
Gota, mais que chuva
Cinza, mais que matiz;

Pulo, mais que voo
Argila, mais que criação
Brasa, mais que fogo
Pulsar, mais que tempo
Blue, mais que feliz;

A parte que me falta
Completa-se na lacuna
Jamais preenchida,
Desde o fruto proibido
Que trago de origem;

O que sei da outra parte?
- Cavidade do esconso,
Fração absoluta de tudo,
Porém, completude
    De toda a vertigem.  


Sem Título - por Ribas Miranda
   
AUSÊNCIA

Li uns poucos bons livros
Vi múltiplos sóis a nascer
Persegui alguns vaga-lumes
No decorrer de toda a vida;

Amores não foram muitos
Viagens? - Fiz imaginárias,
As reais estão por fazer...
Nem sei bem para onde;

Não andei muito na chuva
Não pulei de arranha-céus,
Sonhos? Tenho-os sempre,
Nem bem desperto esteja;

Porém, a ausência em mim
Fica nas arestas do vento,
Não sei bem se o pressinto...
É só falta no pensamento.




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