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Legado e outro poema


Sem título - por J. Ribas

LEGADO

Trago estórias escritas na janela
Do sonho, por eras intermináveis,
O vir a ser dos tons esmaecidos
Subtraídos dos retalhos de viver

Trago variedades do impossível
De acertar por vias e estâncias,
Disso que mal suspeito distinguir
E toda essa realidade proposta

Trago dentro, alentos pródigos,
Muitas perguntas sem resposta
E os acordos falazes do mundo
Que adiaram as lutas do infinito

A rebelião do oceano em fúria
As quedas inevitáveis do sonho,
E de um território não lembrado
Lanço brados pela madrugada

Trago o betume, a vala comum,
O casulo de borboletas nascidas
Do pântano da alma, que a vida
Pôs dispersas, a voar em calma.


Mergulho - por J. Ribas

POEMA ESCURO

Na meia noite da minha vida
Vejo por um instante o clarão
Que faz brilhar uma lembrança
Das muitas que ainda virão

As escolhas certas que não fiz
E dos equívocos sinceros e ciladas
Vi trocar-se alhos com bugalhos
E depois, não havia mais nada

Uma escuridão que se faz brilhar
Na calada silenciosa da alma
As perguntas que me vêm falar
Das distâncias, e das brumas

O escuro que faz por iluminar
A praia por entre as espumas
Dos intermináveis desencantos
Que não quero mais navegar

Nessa hora renascem velhos
Os fantasmas, e o passado
Atravessam um território proibido
Que entre muros tenho guardado


Dança ao sol  - por J. Ribas 

Vivo com certas palavras,
abelhas domésticas.

João Cabral de Melo Neto





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CÔMPUTO

A equação do voo das moscas o zunido do fosso dos ventos, O número de grãos da areia a ferrugem dos dias e da alma,                                                                        O azul a lua etérea,                              as páginas obscuras do Índex, voos e ardis,                                                                                 O abecedário das formigas o sustenido dos pardais, O sol nos bancos das praças a ordem objetiva do mundo... Tudo foi calculado.

STANDBY

me devoto ao impossível tanto quanto creio no tempo e seja próprio do existir o embate inútil das ideias, me devoto aos artifícios Michal Mackú como se a derme calcificada da alma, toda se adequasse em mimetismos e disfarces, no indissolúvel contrato do desencontro, e do vazio tudo é uma espera constante enquanto se macera a vida, mas o espetáculo continua seja noite ou tempestade e o que movimenta a máquina ao menos também a pulveriza...

O OUTRO

Me desfiz de mim há algum tempo esse que tropeça entre móveis, gestos é outro mais incerto, Aposto aos dias às horas mornas cego e absoluto Menino Sentado - Portinari de vazios, equívocos viagens sem retorno, Faísca em geleiras seu coração rude mãos calejadas                         o arado nas pedras a trespassar o desejo, Abala os montes acordos, os mitos apura a veleidade inútil das esperas, do sonho impossível, Falho de verdades à beira do abismo entre asa e vento segue o caminho, é outro mais incerto.