Sem título - por J. Ribas |
LEGADO
Trago estórias escritas na
janela
Do sonho, por eras intermináveis,
O vir a ser dos tons esmaecidos
Subtraídos dos retalhos de viver
Trago variedades do impossível
De acertar por vias e estâncias,
Disso que mal suspeito distinguir
E toda essa realidade proposta
Trago dentro, alentos pródigos,
Muitas perguntas sem resposta
E os acordos falazes do mundo
Que adiaram as lutas do infinito
A rebelião do oceano em fúria
As quedas inevitáveis do sonho,
E de um território não lembrado
Lanço brados pela madrugada
Trago o betume, a vala comum,
O casulo de borboletas nascidas
Do pântano da alma, que a vida
Pôs dispersas, a voar em calma.
Mergulho - por J. Ribas |
POEMA
ESCURO
Na meia
noite da minha vida
Vejo por
um instante o clarão
Que faz
brilhar uma lembrança
Das
muitas que ainda virão
As
escolhas certas que não fiz
E dos
equívocos sinceros e ciladas
Vi
trocar-se alhos com bugalhos
E depois,
não havia mais nada
Uma
escuridão que se faz brilhar
Na calada
silenciosa da alma
As
perguntas que me vêm falar
Das
distâncias, e das brumas
O escuro
que faz por iluminar
A praia
por entre as espumas
Dos
intermináveis desencantos
Que não
quero mais navegar
Nessa
hora renascem velhos
Os
fantasmas, e o passado
Atravessam
um território proibido
Que entre
muros tenho guardado
Dança ao sol - por J. Ribas |
Vivo com certas palavras,
abelhas domésticas.
João Cabral de Melo Neto
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