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DIÁFANA / OLHAR



DIÁFANA

Ela sofreu, sofreu
Até não poder mais,
Remexeu no baú de doer,
Pôs o ruge manchado do sonho;

Inverteu as asas das abelhas,
Apagou até as borboletas
Entre os últimos vestígios de cores,
Suspirou pela ausência de si;

Transbordou o seu mundo
Gota a gota até o topo do silêncio,
Compôs um adágio, e um crepúsculo...
Agora, sim, podia chorar.



                         

OLHAR

Aqueles olhos
Rasgam luminescências
Pela superfície,
Quase se deixam escorrer
Da luz a nascer
Nos penedos; 

Poderiam ferir
Com a limpidez de sóis
No azeviche,
Sem deixar de serem
Lumes a incendiar
Em segredos;

Olhos de ver
Pela fresta de se descobrir
Outros detalhes,
Pequenos e imperceptíveis
De toda gradação
Todos os tons;

Olhar de dizer
O que sequer se pronuncia
Ou sequer fale,
Com o alcance do silêncio 
Que ecoa na alma 
Os seus sons.


Abstrato S/ Título - por J. Ribas 




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