Pular para o conteúdo principal

DIÁFANA / OLHAR



DIÁFANA

Ela sofreu, sofreu
Até não poder mais,
Remexeu no baú de doer,
Pôs o ruge manchado do sonho;

Inverteu as asas das abelhas,
Apagou até as borboletas
Entre os últimos vestígios de cores,
Suspirou pela ausência de si;

Transbordou o seu mundo
Gota a gota até o topo do silêncio,
Compôs um adágio, e um crepúsculo...
Agora, sim, podia chorar.



                         

OLHAR

Aqueles olhos
Rasgam luminescências
Pela superfície,
Quase se deixam escorrer
Da luz a nascer
Nos penedos; 

Poderiam ferir
Com a limpidez de sóis
No azeviche,
Sem deixar de serem
Lumes a incendiar
Em segredos;

Olhos de ver
Pela fresta de se descobrir
Outros detalhes,
Pequenos e imperceptíveis
De toda gradação
Todos os tons;

Olhar de dizer
O que sequer se pronuncia
Ou sequer fale,
Com o alcance do silêncio 
Que ecoa na alma 
Os seus sons.


Abstrato S/ Título - por J. Ribas 




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CÔMPUTO

A equação do voo das moscas o zunido do fosso dos ventos, O número de grãos da areia a ferrugem dos dias e da alma,                                                                        O azul a lua etérea,                              as páginas obscuras do Índex, voos e ardis,                                                                                 O abecedário das formigas o sustenido dos pardais, O sol nos bancos das praças a ordem objetiva do mundo... Tudo foi calculado.

STANDBY

me devoto ao impossível tanto quanto creio no tempo e seja próprio do existir o embate inútil das ideias, me devoto aos artifícios Michal Mackú como se a derme calcificada da alma, toda se adequasse em mimetismos e disfarces, no indissolúvel contrato do desencontro, e do vazio tudo é uma espera constante enquanto se macera a vida, mas o espetáculo continua seja noite ou tempestade e o que movimenta a máquina ao menos também a pulveriza...

O OUTRO

Me desfiz de mim há algum tempo esse que tropeça entre móveis, gestos é outro mais incerto, Aposto aos dias às horas mornas cego e absoluto Menino Sentado - Portinari de vazios, equívocos viagens sem retorno, Faísca em geleiras seu coração rude mãos calejadas                         o arado nas pedras a trespassar o desejo, Abala os montes acordos, os mitos apura a veleidade inútil das esperas, do sonho impossível, Falho de verdades à beira do abismo entre asa e vento segue o caminho, é outro mais incerto.