Pular para o conteúdo principal

Ave do caos


Anja Bührer - meiaseis.com

Parte 1


Me ocupo de poesia
desde que entendo de ausências
mas aprendi que isso não sobrepõe
um passo a mais na estrada
dessa forma, me deixo levar
do jeito de uma onda que vaga;

Ouço palavras como quem sonha
ou pensa se mover em fantasias
as pedras que atiro no espelho
são imagens que retiro da vida
e jamais quis alguma coisa
que não fizesse verdadeira
as agudezas de querer ir além
e jorrar fogo dentro da alma;

Não tenho ideia de onde estão
os planos infalíveis, os cálculos,
zeros que levem a tantos nadas
zeros a somar tantos vazios
e simetrias de pertencer ao mundo
da forma como se deve
não tenho ideia de onde estão
as somas que determinam o mundo
e talvez não necessite saber;

Creio em subverter o que se acredita
e manhãs próximas de um mar
devia-se amanhecer sempre na praia
e quando a vida perdesse a cor
havia-se de levar o sol até a praça,
creio no bem do igual modo
como fosse uma lei da natureza
e pudessem existir anjos;

Estalar os dedos e assoviar displicente
uma música que por pouco não lembro
que me liga ao fio das memórias
e às viagens pelo labirinto de existir
como se pudesse salvar do naufrágio
poeiras a transbordar o tempo...


Parte 2


Me ocupo de mim mesmo
desde que nasci dentro de imaginar
desde o exílio do vazio
de impressões que batem à porta
a querer falar de mundos escondidos
coisas sem valor, adiamentos de mares
que afundam estrelas e saltam
de abismos que desnudam o olhar,
creio outras formas de imaginar; 

Escrevo para fazer saltar o verde
no vermelho dos azuis que não há
entrar em salas vazias de significados
e alcançar oceanos na curvatura da rua
curvas em volta de ondas
ondas em volta de desejos
os desejos, o oceano, tudo em mim;

Quero se possível um sorriso
depois até posso recompor incertezas
não há mais que palavras ao redor de pensar...
e sempre se deve consultar as conchas
para ouvir a canção de uma espera
no sussurrar de um mar esquecido
mas, nem do lado de fora dentro de mim
há modos possíveis de escutar o fim.

Escrevo para existir para fora
de mim mesmo, e dos pensamentos
o território onde palavras se transfigurem
e se recomponham de espantos
onde existam sintaxes proibidas
a devassar o absoluto que subjaz de ver;
(há modos de ver que debelam o coração
sei de vidas que emudeceram à luz
outras, que a ofuscaram sem o sol nascer.)

Não escutem o que digo
a palavra é o abismo a que devo ir
lá confronto as incompletudes
que bastam para ser inteiro,
como nuvens a enfeitar o céu
com uma multiplicidade de tons
que surgem a cada novo olhar
nessa hora terminam os receios
quando há festa na alma, o tempo irrompe
com mais vontade de durar...



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PAISAGEM

fragmentos de nenhum plenitudes de migalhas e sabor de poucos azuis, minha paisagem cruza dos contornos do agora Pano Branco by João Carlos in www.blckdmnds.com às espacialidades  nuas, transpondo os mundos e os revirando em mar de um imergir miragens,                           lançando-se ao absorto para colher das estórias a que não será contada, sei pouco de horizontes e paralelos e contrastes nesse olhar de sombras, minha voz é do silêncio carcereiro das palavras que não alcanço libertar.

CÔMPUTO

A equação do voo das moscas o zunido do fosso dos ventos, O número de grãos da areia a ferrugem dos dias e da alma,                                                                        O azul a lua etérea,                              as páginas obscuras do Índex, voos e ardis,                                                                                 O abecedário das formigas o sustenido dos pardais, O sol nos bancos das praças a ordem objetiva do mundo... Tudo foi calculado.

CICLO e outro poema

CICLO Não tenho o que fazer E então imagino versos Melhor do que guerras É reinventar universos Melhor que navegar só Ter palavras na vereda Mais denso que cálculo Ou musa que interceda À falta de aventurar-se Enlouqueceram muitos Já desaprendi as regras Dos contratos fortuitos Deixo a cargo do acaso Redescobrir a liberdade As cores de pintar o céu As paródias da verdade Não preciso saber muito Nem desejo saber nada Nada tenho a que fazer E reinicio quando acaba. DESEJO ambicionava montanhas na minha cidade não há assim invento mergulhos, e me preencho de alturas que não posso escalar... precisava de temperança na minha cobiça não cabe assim, me rendo à gula, e tomo o mundo com ganas mesmo que não o engula... a necessidade me leva em busca de uma alquimia de transmutar os enganos, e me aferro à lacuna ...