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Mostrando postagens de dezembro, 2012

SEM FIM

Cultivo muitas vidas por dia Depois morro a cada contrato Para nascer o tempo me expia Dos motivos por que me mato Escrevo um livro cada hora No momento seguinte esqueço Quando a febre vai-se embora E junto à penumbra estremeço Leio a alma num segundo Mas desconheço qual razão As magas desfiam outro mundo Contudo, este é minha prisão Canto uns versos pelo sem fim De tropeços, de enganos amei É vergando esse oceano em mim Que descarrego o que não sei. 

TRAÇO

Vênus - Chaiya Ratchatasap Vem até meu sonho Lua de papel crepom Borboleta marinha Na concha do furacão Margarida entre pistilos De sol em profusão Vênus das madrugadas De zumbir solidão Vem estrela dos becos Caravela de botão Estância do mistério Ou jardim da tentação Rosto que não lembro Gesto sem se anunciar  Primavera sem setembro Sereia de nenhum mar  Beijo de fogueira acesa Na centelha do estio Traço que inverte o céu No retalho do meu frio.

CÉU DE AÇAFRÃO

O tempo em mim É sair pelo espaço E vazar imensidão Nas trilhas sem fim Esse pensamento É como fosse abrir Ao sabor do vento O mar sem direção Enlaço o instante Além do que vive E tudo que cante Dos frutos que tive Som da ventania No céu de açafrão Do pó é que saía A alma feito grão... Quão doce é ter de amar e o quanto tenho de sonho, Que em meio a doçura está   os versos que me disponho. J. Ribas

BARCO DE PAPEL

Numa folha de papel colorido Dobro um barco com as mãos, Como se dobrasse outros tempos E o arremesso nas águas que vão Desliza pela enxurrada que cai De nuvens que regam a imaginação, O barco que vem menos por nostalgia Que por uma lembrança que se trai Pois quis ver motivos em barcos Em temporais que vazam no coração, Entanto são as horas que se arrastam Em durar, e fingir-se embarcação...    Que estou na equidistância de uma fração dividida, A alma reparte-se em mares que se evaporam da vida. J. Ribas

SALTIMBANCO

Já fui o saltimbanco ligeiro Disfarçado em alegria, Nas praças exibi o espetáculo, Ao meu lado andava a magia Da ilustrada loucura E dos pantáculos; Um dia quebrei as asas No salto escuro do trapézio, Entre o infinito e a dor Vivo agora sem rumo, Não sou herói nem bandido Pirata ou domador; Piso as rimas Submersas pelo espaço, Viajo léguas sem compromisso Até as fragas do sonho, Não sei o que quero com isso Porém, disso me refaço. §§ E lutei, como luta um solitário Quando alguém lhe perturba a solidão. Miguel Torga