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Mostrando postagens de novembro, 2012

PALAVRA

  Malabarismo - por J. Ribas  Agito das linhas frágeis Da quase loucura humana A palavra a sangue-frio Feito um corte na veia Quis mesmo a palavra crua Remendada, de sabre no olho Vexada rota seminua Como sopro que incendeia Que sejam as corriqueiras A reles, riscadas a giz Saindo das bocas nas feiras A devorar o que ninguém diz E não esqueço, é a palavra Que goteja sangue, universos Refugo que nutre e lavra As mutações do aprendiz... Com a alma só comovida Do sonho e pouco da vida. Fernando Pessoa                                      

GRITO

In Blue - por J Ribas  O pôr-do-sol transversal Estende o seu ouro velho Nas cercanias do planeta Deixo o caos me distrair Borboletas sugam o açúcar Das horas breves; Minha vida suburbana Sob os holofotes do circo Encolhe a cauda espinhosa De dromedário ronceiro O sertão da caatinga nua Encharcado de neve; Fujo para o mar verdoso Dos seus olhos castos Beijo seus seios túrgidos De alvos alabastros A turmalina e o minério Da alma se abrasam; Um anjo sob o viaduto Grafita os sinais do céu Mimetizados na luz Adão e Eva fogem do paraíso Entre folhas de parreira E maçãs, eles descasam; Não quero entender O mundo e suas falácias Não vejo cor no cinza Esse gris não tem graça Há mais cores entre mim E o que se oculta infinito; Se buscasse o provável Não o teria percebido Tanto quanto me perco Nos quânticos espasmos De atravessar o fio Insurgente desse grito.  Adão e Eva - Albrecht Dürer A poesia é um

OUTRO POEMA

Máscaras - por J. Ribas OUTRO POEMA Matou-se o pouco de mim cada dia E a cada volta da emboscada Foi-se a alegria, de fantasia rasgada Um sugou o cobertor de estrelas Outro ainda, o fogo que alimentava Ficou um sorriso de vidro, transfixado Num momento que não mais vem Porém, selei da vida um emblema Dos avessos que enlaço meu dilema A campear verdades aqui e além Que não vão fisgar a réstia de vida Nem as veredas pelos quais saía A revirar as distâncias em liberdade Não puderam atalhar os infinitos Guardados na prensa da ventania Escolhi o meu campo de batalha Da luta forjada no pensamento E se desato mancheias de espanto É de levar às vias do impossível A busca de significados que canto.

BAILARINA

Bailarina - Joan Miró De asas translúcidas Em seu corpo aéreo Olhos a fisgar luas Inebriadas de mistério Desmonta o tempo Anuncia o apocalipse Subjuga luz e espaço E se alinha no eclipse Delicada bailarina Sopro que liberta Os véus de desvelar A sua alma inquieta Cintilar perpétuo Na sombra que afundo Seus passos serenam As dores do mundo Encanto displicente De o vento soprar As ondas do oceano Que jazem no mar Irrompe a ventura Do sonho que desejo E acorda o universo         Nas asas de um beijo.            Joan Miró - Ei, poeta, não ouço seus gritos! -Não clamo ao mundo, mas ao infinito!  J. Ribas

RABISCOS

Essas palavras jogadas ao vento Nem céus e terras ultrapassam São umas palavras que invento Desse retrato aferrado de existir Algumas libertam pensamentos De outras o destino é submergir A bordo dos barcos naufragados Nos temporais severos de existir São cartas perdidas, já sem uso E frases que ecoam sem dormir A tecer monólogos inconclusos Esse burilar contínuo de existir As confissões inúteis, sem data As horas ocas e tempos por vir... Palavras, mutiladas do que falta São apenas os rabiscos de existir. §§ Em volta tudo ganha a vida mais intensa, com nitidez de agulha e presença de vespa. João Cabral de Melo Neto